sábado, 20 de abril de 2019

Eintracht - Benfica: o 38º jogo que foi na cidade alucinada



Abril 2019. Após eliminatórias com o Galatasaray e com o Dinamo Zagreb (ausente em ambas), eis que nos calha Frankfurt, a apenas 400 km de distância de onde me encontro a residir. No entanto o jogo bate com o período da Páscoa e para ir ao jogo e aproveitar o fim de semana de 4 dias sem trabalhar, fruto de 2 feriados na Alsácia, tenho de ir de avião para depois ir a Portugal pela primeira vez desde janeiro 2019. Mas Frankfurt não se pode falhar… Um dos três melhores ambientes da Alemanha (com Nuremberga e Dresden) e da Europa.

Consultadas as datas da malta que também ia, acabei por marcar Basel - Frankfurt para a manhã do jogo, com voo para Portugal no sábado de manhã.

Na semana anterior, jogo da primeira mão com grande invasão alemã a Lisboa. Os alemães cedo ficaram reduzidos a 10 e o Benfica desperdiçou uma tremenda oportunidade de, desde logo, resolver a eliminatória, sofrendo dois golos dum adversário que é, por essa altura, a mais entusiasmante equipa alemã, mas que aparenta estar em quebra nessa fase da época.

Véspera do jogo e prepara-se a mala, levezinha e sobretudo com coisas para levar para Portugal, entre revistas, livros e cachecóis recentemente comprados para a coleção. Manhã do jogo com despertar às 5:35 habituais e ainda ir à fábrica ás 6:30 colocar todo o pessoal ao trabalho e orientar tudo para esse dia e para o regresso de terça feira seguinte, até que às 9:30 foi hora de seguir para o aeroporto.

O voo foi curto e rápido, sem atrasos e a chegada a Frankfurt tranquila, tendo percorrido o gigante aeroporto para apanhar o metro ou comboio que me levaria até à estação principal de Franfkurt, a mais movimentada da Europa, perto da qual ficaria alojado. Aí chegado, apesar de ainda não serem 15, foi-me permitido efetuar o check-in, tendo-me instalado e dirigido a pé para a zona da Igreja de Santa Catarina, onde me esperavam para um copo e almoçarmos.

Aí chegado, os cumprimentos efusivos entre pessoal que não se via há 3 meses, e ida direta à loja do Frankfurt para comprar o habitual cachecol do jogo, tendo ainda comprado uma tshirt alusiva à eliminatória. A nota de destaque até então era que, para chegar a essa área extremamente comercial e concorrida, foi preciso atravessar a Red Light de Frankfurt, que logo aí me parece bastante degradada, mas menos do que se viria a revelar. Aproveitando o sol alemão e terminada a primeira cerveja, seguimos a pé de volta para a zona mais próxima da gare, e da Red Light, mas neste caso na rua principal onde se encontram as esplanadas para então almoçarmos, já algo tardiamente, e onde mais um companheiro se viria a juntar a nós. Terminado o almoço, seguimos até ao hotel deixar as compras e pegar no material que iriamos para o jogo tendo passado no hotel onde estavam alguns dos nossos, em plena red light. Confesso nunca ter visto nada assim: o hotel ficava junto a uma casa de reabilitação, onde se via uma autêntica casa de xuto a céu aberto, com pessoas a injetarem-se na via pública , e um estado de decadência como pensei que já não fosse possível ver na europa ocidental. A tal zona da Red Light, era efetivamente algo muito à parte como nunca tinha visto na minha vida e dificilmente voltarei a ver, apesar de se resumir mesmo àquele quadrado de 300 por 300 metros a leste da Gare Principal, pois aquele cenário não se viria a repetir em mais lado nenhum da cidade. Algo impressionante era o contraste entre a zona degradada e o centro financeiro, colados um ao outro e com uma limpeza e ordem que era da noite para o dia.





Deixadas as coisas no hotel, ponto de encontro na Gare, junto à qual já se juntavam muitos adeptos locais, que nos pubs iam aproveitando o calor que se fazia sentir. Descemos então para a linha onde apanharíamos o metro que nos levaria ao estádio (S8 ou S9), tendo optado por não ir nos autocarros fornecidos para adeptos do Benfica, que partiam do meeting point pré-definido, e assim aproveitar o ambiente dos adeptos locais. E em boa hora o fizemos pois tivemos assim a possibilidade de fazer o trajeto que todos eles fazem, atravessando o parque que leva da estação local até ao estádio onde se viam grandes bancas de material e música, beergardens em todo o lado e os míticos adeptos alemães com os seus casacos de ganga. Já em frente ao estádio, deslocámo-nos junto ao parque de autocarros onde encontrámos uma série de murais que são autênticas obras de arte.





Demos então a volta ao estádio para nos juntarmos aos adeptos portugueses no parque indicado para os mesmos, e vermos o resto do pessoal vindo da terra lusitana. Faltava então pouco mais de uma hora para o jogo e resolvemos entrar, pois tínhamos ainda dois cordões de revista pela frente. E foi num deles que veio o primeiro aspeto negativo: todos os adeptos do Benfica que tivessem algum adereço do Eintracht, cachecol do jogo excluído, teria de o deixar ali, podendo-o recolher no final do jogo. O argumento era de que o poderiam queimar na bancada e assim esse cenário ficava colocado de parte. De resto em volta do estádio, a circulação era livre e havia confraternização entre portugueses e alemães, sem qualquer problema. Passagem obrigatória no bar e entrada na bancada para poder finalmente começar a sentir um dos melhores ambientes da Alemanha.  E a Westkurve já estava a rebentar pelas costuras nessa altura, sendo possível perceber que ia haver coreografia.





O que se passou então dentro do estádio, não foi possível qualificar. Poucas semanas depois de ter estado num Stuttgart – Nurnberg, e ter ficado maravilhado, fui ao Commerzbank assistir a uma lição de apoio, entusiasmo e adoração a um clube. 80% do estádio ficou sempre de pé, desde 1 hora antes do jogo até abandonar o estádio. 80% do estádio (mínimo) cantou ininterruptamente, e o som era verdadeiramente ensurdecedor, a ponto de nós, no setor visitante, não nos ouvirmos a nós caso não cantássemos a uma só voz. E infelizmente foi isso que acabou por acontecer. Com um público Benfiquista que se assemelhou muito mais ao publico aburguesado da Luz, onde o apoio tem falhado demais, e menos ao que costumamos ver a Norte e no estrangeiro, sentimos que nos acabámos por fazer ouvir muito menos do que o que devíamos e do que o que a nossa equipa e o nosso clube precisavam. E se podemos criticar a nossa equipa pela estratégia (e não pela atitude) de entrar a pensar na gestão de resultados, podemos também fazer mais um mea culpa e colocar a mão na consciência sobre o que andamos a fazer na bancada. O problema é grave, e carece de intervenção o mais rápida possível, porque é também o reflexo do perigo pelo qual passa o Benfica popular que sempre conhecemos.


Após o jogo, e claramente a lidar mal com a eliminação, fruto de um golo mais falso do que judas, todo e qualquer programa noturno ficou desde logo colocado de parte por mim. Seguimos nos autocarros colocados à disposição dos adeptos do Benfica até à zona central da cidade, e daí seguindo até ao hotel deixar as coisas para ir jantar a uma conhecida cadeia de fast food na estação. Pelo meio, mais uma travessia da mais que degradada Red Light de Frankfurt. Jantados, foi tempo de ir para o quarto e dormir, o dia seguinte seria de turismo. O possível numa cidade onde pouca coisa há para ver.

Sexta feira santa. Um sol tremendo em Frankfurt e passeia-se de tshirt sem qualquer pitada de frio. Vamos até ao Rio enquanto o resto da malta não acorda. Quando nos encontramos junto ao rio, eis que a malta que estava alojada no hotel junto aos walking dead dá sinal de vida, e marcamos ponto de encontro perto da red light para tomar o pequeno almoço, donde seguimos para a zona da Catedral a pé. Trata-se da zona mais típica alemã, e claramente a zona mais interessante da cidade. Lá chegados, as habituais praças gigantes, onde reparámos que era dia de manifestação de jovens pelo clima do planeta, tendo os mesmos partido para uma sessão de recolha do lixo que se encontrava nas ruas.  Seguimos até à ponte Eiserner, um dos ex libris da cidade e onde se podem de facto tirar fotos de qualidade superior, visitámos a catedral da cidade, e voltámos à grande praça da cidade, Römerberg, onde aproveitámos para almoçar, no meu caso o já típico Joelho de Porco.











Findo o almoço seguimos a pé até ao hotel do amigo que ia embora, donde seguimos até à estação para o deixar. Pelo caminho, um encontro com Gonçalo Paciência que ao passar por nós não repetiu a figurinha ridícula que havia feito no final do jogo. Deixado o grande amigo Doutor na estação, voltámos para trás em direção à Main Tower, para aproveitar e ter direito à melhor vista de Frankfurt. Trata-se duma torre onde subimos de elevador até ao 54º andar, situado a 190m de altura, subindo ainda mais uns lanços de escada, permitindo ter uma superlativa vista panorâmica da cidade. Não saímos defraudados mesmo que tenha chegado à conclusão que Frankfurt é a cidade banhada com um rio com a menor aura que alguma vez conheci. Após a visita à Main Tower, hora de nos refrescarmos com uma loira e regresso ao hotel para descansar um pouco. Os mais de 40km caminhados em dois dias já se começam a fazer sentir, do qual só saímos para jantar num restaurante australiano onde já tínhamos bebido ido beber a loirinha à tarde. E de barriga cheia regressámos ao hotel, com mais um vislumbre de pessoas anormalmente exóticas até ao mesmo.












Foi então hora de arrumar as malas pois tínhamos poucas horas de sono pela frente….

Despertador às 4, banho rápido, seguir para a estação onde apanhámos o metro, tendo mais uma vez sido abordados pelo caminho, e cruzando tudo e mais alguma coisa na estação. Era então tempo de seguir para o aeroporto.

A eliminação custou. Mas valeu a pena… Vale sempre. Não recomendo Frankfurt em termos turísticos. Não vale a pena. Chega a ser assustadora em algumas zonas e pouco há que se aproveite.  Mas o 80º estádio onde vi futebol, e onde acompanhei o meu 38º jogo do Benfica no estrangeiro, deixou-me uma marca que comigo ficará para sempre. É aquilo que eu sonho para o meu clube. Por muito utópico que eu acredito que seja. Mas acho que é por algo assim que vale a pena lutar e sonhar.

A conclusão ? Viva o Benfica. E venha o 39º... Mas antes há a prioridade das prioridades: ganhar o próximo jogo da Liga pois o Campeonato Nacional e o 37º são sonhos mais do que desejados.