Recuemos a 2005. O Benfica acabava de regressar aos títulos
e, após o fracasso na pré-eliminatória na época anterior, regressava também à
Champions. Encontrávamo-nos ainda numa era onde não era fácil viajar pela
Europa. O mundo das Low Costs estava a entrar em Portugal, mas na altura apenas
do Porto, Lisboa ainda não era servida. E mesmo os destinos com origem no Porto
eram limitados. O que fez com que a solução acabasse por ser simples…
Na véspera do jogo acordámos bem de madrugada, tendo-nos
juntado no ponto combinado para recolha do pessoal, e arrancámos rumo ao Porto.
Mais de duas horas de viagem, e carro estacionado para irmos apanhar o voo que
nos levaria a… Londres.
No voo, tudo OK. Era a primeira vez para muitos numa Low
Cost, eu incluído, e o espanto pelo quão apertados os lugares eram não tardou a
chegar. Mas nada importava, o importante é que seguíamos rumo a Old Trafford
para ver o regresso do Benfica à elite europeia, num dos mais míticos estádios
da Europa.
Aterrados em Londres, começava a revelar-se o que não tenho
deixado de comprovar ao longo destes 14 anos, desde então, a acompanhar o
Benfica no estrangeiro. A solidariedade. No aeroporto em Londres, tínhamos o
Fábio, português a morar na capital do Reino Unido que ia acolher mais de uma dezena
de desconhecidos na sua casa, e que ainda deu uma ajuda no aluguer de viaturas
lá fora, que era também algo de muito novo para todos na altura… E assim foi a
minha primeira noite passada em Londres, cidade onde jamais tinha ido. Uma
travessia da cidade de carro, até chegarmos a Stockwell, onde ficámos alojados.
Quanto ao condutor do nosso carro, por ora recusava-me. Conduzir com o volante
à direita, só quando saísse do caos londrino.
E assim foi, na manhã seguinte após a saída de Londres:
chegados à autoestrada, assumi o volante, e até Manchester tudo correu de forma
tranquila, apesar do intenso transito à entrada da cidade (o qual se viria a
repetir na saída, comprovando-se a teoria de que Manchester é maioritariamente
azul, o grande contingente do United vem de fora da cidade).
Já em Manchester, a curiosidade pela cidade também não se
manifestou, e fomos diretos ao estádio para estacionar. Ponto um e grande
memória dessa altura: o vento gélido que soprava, vindo do norte. Até estalava…
Carro estacionado, destino estádio, mais propriamente a loja e conhecer todo um
mundo novo. A loja era gigante. E tudo era explorado, e bem explorado. Pelo
caminho umas belas fotos tiradas em frente à estátua do Sir Matt Bubsy e daí
até à Pizza Hut para um almoço prolongado.
Já de barriga cheia, voltámos para a zona periférica do
estádio, enquanto assistíamos ao enorme contingente de adeptos do Benfica que
ia chegando. Pelo meio o registo dum incidente com um peão Benfiquista, o qual
ao invés de fazer o necessário “look right, look left”, fez o inverso e acabou
por sofrer as consequências. O que não deixava de chegar era povo Benfiquista,
o que prometia um setor visitante de apoio forte….
Portas abertas, pessoal a entrar, e embirração seguinte com
os stewards ingleses, que com o habitual rigor queriam que todos ocupassem o
lugar dos bilhetes e não admitiam que ninguém estivesse de pé. O que acabou por
ser cumprido, no que à segunda parte diz respeito, até ao apito inicial. A
partir daí, nada há a fazer. Para nós é sempre “stand up for the Champion”.
O jogo foi equilibrado. Frente a um forte Man United, o
Benfica mostrava que era possível, mas já perto do intervalo, na sequência de
um livre, a bola desvia na barreira e estava feito o primeiro golo dos
ingleses, indo o Benfica com uma desvantagem injusta para o intervalo. Pelo
meio recebíamos mensagens de Portugal que afiançavam que na transmissão, o
apoio só dava Benfica, e que era mesmo impressionante. Ao intervalo começavam algumas picardias
verbais entre adeptos do Benfica, e os adeptos ingleses que estavam nos
camarotes atrás de nós.
Começa a segunda parte, e a tendência de equilíbrio mantinha-se, até que o Benfica conquista um livre na quina direita da área. Dito e feito, dali era o Simão e era meio penalty. Não perdi tempo e virei-me para os tais camarotes tendo avisado os locais, perante o gozo deles, que dali estava feito o empate. Dito e feito. Simão faturou e Van der Sar não teve a mínima hipótese. E quando me aprestava para mostrar aos ingleses quem sabia, dou de caras com os mesmos a aplaudir, desarmando qualquer tentativa de provocação minha. Proseguiu o jogo, o Benfica acreditava, bem como os seus adeptos, mas já perto do final, na sequência de um canto, um ressalto num jogador nosso coloca a bola em Ruud Van Nilsterooy que marcou o golo da vitória inglesa, levando a que o Benfica fosse ingloriamente derrotado neste regresso aos grandes palcos europeus….
Assim sendo, após a habitual espera no final do jogo, foi de forma algo cabisbaixa que saímos do estádio. E antes da despedida da malta de Londres, pois dali iriamos diretos para o aeroporto da capital pois o voo de regresso seria de manhã e a viagem ocuparia larga parte da noite, não deixei de dizer ao Fábio: “Voltamos para Liverpool”. E acabámos mesmo por voltar…
À saída do parque, mais provocações de adeptos ingleses e um
inacreditável trânsito até chegar à autoestrada. A partir daí, tudo tranquilo
até ao aeroporto, no avião, e finalmente no regresso a Lisboa. Estava assim
concluída a terceira tour europeia, e da qual infelizmente, não consigo
arranjar qualquer registo fotográfico…
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