quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Manchester United - Benfica (2005): Odisseia no arranque das Low Cost em Portugal

 


Recuemos a 2005. O Benfica acabava de regressar aos títulos e, após o fracasso na pré-eliminatória na época anterior, regressava também à Champions. Encontrávamo-nos ainda numa era onde não era fácil viajar pela Europa. O mundo das Low Costs estava a entrar em Portugal, mas na altura apenas do Porto, Lisboa ainda não era servida. E mesmo os destinos com origem no Porto eram limitados. O que fez com que a solução acabasse por ser simples…

Na véspera do jogo acordámos bem de madrugada, tendo-nos juntado no ponto combinado para recolha do pessoal, e arrancámos rumo ao Porto. Mais de duas horas de viagem, e carro estacionado para irmos apanhar o voo que nos levaria a… Londres.

No voo, tudo OK. Era a primeira vez para muitos numa Low Cost, eu incluído, e o espanto pelo quão apertados os lugares eram não tardou a chegar. Mas nada importava, o importante é que seguíamos rumo a Old Trafford para ver o regresso do Benfica à elite europeia, num dos mais míticos estádios da Europa.

Aterrados em Londres, começava a revelar-se o que não tenho deixado de comprovar ao longo destes 14 anos, desde então, a acompanhar o Benfica no estrangeiro. A solidariedade. No aeroporto em Londres, tínhamos o Fábio, português a morar na capital do Reino Unido que ia acolher mais de uma dezena de desconhecidos na sua casa, e que ainda deu uma ajuda no aluguer de viaturas lá fora, que era também algo de muito novo para todos na altura… E assim foi a minha primeira noite passada em Londres, cidade onde jamais tinha ido. Uma travessia da cidade de carro, até chegarmos a Stockwell, onde ficámos alojados. Quanto ao condutor do nosso carro, por ora recusava-me. Conduzir com o volante à direita, só quando saísse do caos londrino.

E assim foi, na manhã seguinte após a saída de Londres: chegados à autoestrada, assumi o volante, e até Manchester tudo correu de forma tranquila, apesar do intenso transito à entrada da cidade (o qual se viria a repetir na saída, comprovando-se a teoria de que Manchester é maioritariamente azul, o grande contingente do United vem de fora da cidade).

Já em Manchester, a curiosidade pela cidade também não se manifestou, e fomos diretos ao estádio para estacionar. Ponto um e grande memória dessa altura: o vento gélido que soprava, vindo do norte. Até estalava… Carro estacionado, destino estádio, mais propriamente a loja e conhecer todo um mundo novo. A loja era gigante. E tudo era explorado, e bem explorado. Pelo caminho umas belas fotos tiradas em frente à estátua do Sir Matt Bubsy e daí até à Pizza Hut para um almoço prolongado.

Já de barriga cheia, voltámos para a zona periférica do estádio, enquanto assistíamos ao enorme contingente de adeptos do Benfica que ia chegando. Pelo meio o registo dum incidente com um peão Benfiquista, o qual ao invés de fazer o necessário “look right, look left”, fez o inverso e acabou por sofrer as consequências. O que não deixava de chegar era povo Benfiquista, o que prometia um setor visitante de apoio forte….

Portas abertas, pessoal a entrar, e embirração seguinte com os stewards ingleses, que com o habitual rigor queriam que todos ocupassem o lugar dos bilhetes e não admitiam que ninguém estivesse de pé. O que acabou por ser cumprido, no que à segunda parte diz respeito, até ao apito inicial. A partir daí, nada há a fazer. Para nós é sempre “stand up for the Champion”.

O jogo foi equilibrado. Frente a um forte Man United, o Benfica mostrava que era possível, mas já perto do intervalo, na sequência de um livre, a bola desvia na barreira e estava feito o primeiro golo dos ingleses, indo o Benfica com uma desvantagem injusta para o intervalo. Pelo meio recebíamos mensagens de Portugal que afiançavam que na transmissão, o apoio só dava Benfica, e que era mesmo impressionante.  Ao intervalo começavam algumas picardias verbais entre adeptos do Benfica, e os adeptos ingleses que estavam nos camarotes atrás de nós.




Começa a segunda parte, e a tendência de equilíbrio mantinha-se, até que o Benfica conquista um livre na quina direita da área. Dito e feito, dali era o Simão e era meio penalty. Não perdi tempo e virei-me para os tais camarotes tendo avisado os locais, perante o gozo deles, que dali estava feito o empate. Dito e feito. Simão faturou e Van der Sar não teve a mínima hipótese. E quando me aprestava para mostrar aos ingleses quem sabia, dou de caras com os mesmos a aplaudir, desarmando qualquer tentativa de provocação minha. Proseguiu o jogo, o Benfica acreditava, bem como os seus adeptos, mas já perto do final, na sequência de um canto, um ressalto num jogador nosso coloca a bola em Ruud Van Nilsterooy que marcou o golo da vitória inglesa, levando a que o Benfica fosse ingloriamente derrotado neste regresso aos grandes palcos europeus….


Assim sendo, após a habitual espera no final do jogo, foi de forma algo cabisbaixa que saímos do estádio. E antes da despedida da malta de Londres, pois dali iriamos diretos para o aeroporto da capital pois o voo de regresso seria de manhã e a viagem ocuparia larga parte da noite, não deixei de dizer ao Fábio: “Voltamos para Liverpool”. E acabámos mesmo por voltar…

À saída do parque, mais provocações de adeptos ingleses e um inacreditável trânsito até chegar à autoestrada. A partir daí, tudo tranquilo até ao aeroporto, no avião, e finalmente no regresso a Lisboa. Estava assim concluída a terceira tour europeia, e da qual infelizmente, não consigo arranjar qualquer registo fotográfico…

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