terça-feira, 4 de outubro de 2016

Mário Wilson. O Capitão Mário Wilson


Não tem sido fácil desde ontem à noite. De tal maneira que num blog destinado a viagens e aventuras, abri uma excepção para falar de uma pessoa. Para se ter uma noção, e sem menosprezo para ninguém nem qualquer desconsideração, e como cada pessoa tem as suas referências, eu desde novo tinha 3 lendas vivas do Benfica: Mário Coluna, Mário Wilson e Toni. Infelizmente apenas sobra o Senhor Toni. (Nota: Há muito Benfiquismo vivo ainda nos dias de hoje, José Augusto, Shéu, José Henrique entre muitos outros não estão esquecidos. Apenas para mim, estes três monstros eram especiais...)



Fui ontem jantar com a família, ao ínicio do jantar o telefone recebe uma notificação "Morreu Mario Wilson". Fui atravessado por um raio. Sabia da sua débil condição desde há uns meses, mas nunca estamos preparados para ver partir pessoas que são, para nós imortais.

Mário Wilson era carismático, um Senhor, um Amigo da família, um tremendo contador de histórias, uma pessoa unânime no futebol português, algo praticamente impossível dado o lodo que grassa no mesmo. Por isso é que há pessoas especiais, e o Capitão era uma delas.

Cedo veio para Portugal, onde jogou no Sporting, mas foi em Coimbra onde assentou arraiais, onde ganhou o epíteto de Velho Capitão. Na cidade pela qual se apaixonou, e pelo clube que foi a sua segunda paixão, e onde o meu Pai acabaria por conhecê-lo. E da vivência do Capitão em Coimbra que me chegaram as primeiras histórias do mesmo. Do Capitão, do Toni, do Quinito e do Artur Jorge. E é daí que vem a minha admiração pelos dois primeiros, praticamente desde berço.

No que ao nosso clube diz respeito, Mario Wilson nunca lhe virou as costas. Apesar de só ter chegado ao Benfica já na ternura dos 40, o Benfica já lhe tinha chegado desde berço como o próprio disse num dos mais brutais discursos da centenária história do nosso clube, ou não tivesse ele sido jogador do Desportivo de Lourenço Marques. O Capitão que nunca disse que não ao Benfica, curiosamente só por uma vez teve quase a fazê-lo, e foi na sua primeira vinda para cá. Mas o destino estava escrito e Mário Wilson veio mudar a frase de "Nenhum treinador português é Campeão no Benfica" para "No Benfica qualquer treinador se arrisca a ser Campeão".


Nessa altura era o grande Benfica, e após essas duas aventuras enquanto técnico do clube, na década de 70, Mario Wilson andou numa roda viva de clubes, qual GlobeTrotter, em Portugal (Académica, Estoril, Cova da Piedade, Louletano, Torreense, Olhanense...)  e também em Marrocos, concluiu a época de 1994-1995.


Foi então que regressou à Luz, ao seu Teatro dos Sonhos. Primeiro como membro do Staff técnico, depois como treinador interino onde ganhou uma Taça de Portugal no pior período da nossa história. Nos dois anos seguintes voltaria a assumir o cargo, interinamente, por duas vezes (ainda recentemente se falava duma vitória em Chaves sob o seu comando), e pelo meio treinador do Alverca quando este era o clube satélite do clube.


Mario Wilson nunca virou as costas, e se o Benfica o chamasse limitava-se a sorrir. Porque era o Benfica.

O Benfica é uma lenda. E se o é, é por pessoas como o Capitão.

O Capitão Amigo, o Capitão Unânime, o Capitão Contador de histórias, o Capitão apaixonado. O Capitão que dizia que "Genial só há um, João Pinto e mais nenhum" e que adorava os pezinhos do Panduru, lamentando a falta de vontade do mesmo. O Capitão visionário. O segundo pai de Toni.

A Lusofonia ficou mais pobre. Portugal e Moçambique ficaram mais pobres. Coimbra ficou mais pobre. O Desporto português ficou mais pobre. O Futebol português ficou mais pobre. O Sport Lisboa e Benfica ficou mais pobre. Com esta dificuldade apenas digo, Deus conserve todos os nossos símbolos, mas perdoem-me o desplante, que conserve mesmo o Filho Branco do Capitão. O Senhor Toni.


Há muito tempo que queria levar o Capitão (e o seu filho branco) a um convívio de Benfiquistas que certamente ficariam deliciados com as suas histórias. Infelizmente esse dia não chegou a acontecer. Mas na tertúlia lá em cima, já se devem esfregar as mãos... Hoje prestarei a minha homenagem. E com algo reconfortante: ao contrário do que outrora sucedeu, o Capitão não acaba esquecido. Acaba, isso sim, amado. Pelos seus, e pelos que ajudou a criar, mesmo que não saiba. Porque todos nós somos Mario Wilson quando pensamos no que mais gostamos.

Viva o Capitão. Uma Lenda Imortal.