segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Dynamo Kyev - Benfica: A surpreendente cidade de Kyi, Shchek, Khoryv e Lybid - Episódio (II)





O dia do jogo voltou a começar cedo. Havia mais uma volta para dar pela cidade que tanto nos tinha surpreendido na véspera!


Pequeno almoço tomado e dois de nós arrancámos novamente a pé. Uma íngreme subida em direcção à Casa das Químeras. A casa das Químeras é um edifício governamental cuja visibilidade está agora reduzida, o que é pena tratando-se de um dos edificios ex libris da cidade, contrapondo com todos os edifícios soviéticos que há na cidade.


Após as fotos possíveis, seguimos em direcção à Praça da Independência, onde já haviamos estado na véspera, pois era a partir daí que tinhamos um itinerário para visitar nesse dia. Após algumas fotos na Praça da Independência, tiradas em frente ao imponente Hotel Ukraine.






Da Praça da Independência, arrancámos rumo ao Monumento a Vladimir. Trata-se de uma estátua imponente, num miradouro junto ao rio, que se encontra algo degradada, pintada de vermelho, seguindo daí para o Mosteiro de St Michael. O Mosteiro de St Michael caracteriza-se por todas as cúpulas douradas. É extremamente imponente devido a isso pois, acreditem, não são apenas duas ou três. São mesmo muitas...



Após umas quantas fotos em frente à entrada principal do Mosteiro, e com outro mosteiro (o de Santa Sophia) à vista, fizemos um pequeno desvio para, pelo meio, irmos ver a Igreja de St Andrews. Numa praça junto a esta Igreja, em obras, encontrava-se um mercado de rua. Mas não era um mercado qualquer... Além dos ímans comprados, e da colectanea de cachecóis de clubes ucranianos que trouxe, havia para venda um tremendo espólio de relíquias do III Reich e da II Guerra Mundial. Mas relíquias originais! Algo que contado ninguém acredita, só mesmo visto. Se na véspera tinhamos estado num museu, ali estávamos literalmente noutro.

Após mais de meia hora a vermos todas a bancas da pequena feira, lá seguimos em direcçao ao Mosteiro de Santa Sophia. Também conhecido, mas não tanto como o Lavra, lá tirámos mais umas fotos antes de seguirmos em direcção à Golden Gate. A Golden Gate é a única porta que sobra da muralha da cidade. Não está no entanto intacta, e já foi submetida a obras de recuperação, o que levaram a algumas alterações em relação à original. É possível entrar na porta e subir à mesma, algo que não fizemos pois, a hora permitia que ainda fossemos ver a Opera, e assistir à segunda parte do Benfica na Uefa Youth League.




Golden Gate
Ópera

À chegada ao Estádio Valeriy Lobanovskiy, o Benfica perdia por 1-0. Na  segunda parte ainda houve um golo para cada lado sendo que já perto do final seguimos em direcção ao nosso hotel onde preparámos a ida para o grande jogo.



Dynamo vs SL Benfica - UEFA Youth League 


Assim que as portas abriram, arrancámos rumo ao Estádio em pequenos grupos de 2 ou 3 pessoas. Tudo decorreu tranquilamente e a entrada fez-se bem. No estádio, aí sim tivemos algum frio. Estar parado não ajuda, e à hora do jogo estava 1ºC. O Benfica ganhou 0-2, tendo sido extremamente eficaz e finalmente somou a sua primeira vitória na competição. Foi bom ? Foi óptimo!




Dynamo vs SL Benfica - UEFA Champions League


Após o jogo, esperámos cerca de 15 minutos. Voltámos então para o hotel, dando uma volta maior, como alinhavado antes, para evitar contratempos, e ficámos até às 3 da manhã no bar do hotel à espera do transfer.  Foi nessa altura que descobri que o hotel tinha um bar de strip! De facto em Kyiv vale tudo !



À hora combinada arrancámos então para o aeroporto. Dava-se então o regresso da 23ª viagem ao estrangeiro para ver o Benfica e acabou no sítio do costume. No 3º anel do Estádio da Luz a comer um fantástico Cozido à portuguesa, como se pede às quintas-feiras.



Viva o Benfica!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Dynamo Kyev - Benfica: A surpreendente cidade de Kyi, Shchek, Khoryv e Lybid - Episódio (I)




Desde o sorteio que a expectativa de ir à Ucrânia ficou criada. Por ser um país novo para mim nestas andanças, mas também porque não era um ambiente de passeio puro o que nos dá sempre alguma adrenalina. Quanto à cidade em si, confesso que numa fase inicial não me despoletava particular interesse. E felizmente digo que não poderia estar mais enganado!

A logística da viagem iniciou-se de imediato: desde logo marcámos a ida para segunda e o regresso quinta-feira logo pela manhã para assim termos 2 dias e meio para visitar a cidade e dada a hora do voo de regresso evitávamos pagar a estadia da última noite pois seria despropositado. O visto não era uma preocupação por não ser necessário, e o hotel também não demorou muito a ficar tratado, tal como o transfer, tendo ficado instalado nas traseiras do estádio. O que nos restava fazer era aguardar até 17 de Novembro, dia da partida.

E assim foi, às 3 da manhã de dia 17 de Outubro deu-se o acordar. Tudo estava pronto para levar, foi tomar o pequeno almoço, sair perto das 4 da manhã, apanhar dois companheiros destas lides e seguir para o aeroporto, onde mais pessoal se juntou, para então seguirmos para Munique e daí para Kyev.
O voo para Munique decorreu em modo zombie, e lá chegados surgiu o primeiro contratempo: o voo de Munique para Kyev estava uma hora atrasado o que nos impediu de fazer a primeira coisa que queriamos fazer: visitar o Estádio Olímpico. Íamos chegar depois da hora da última visita e nos restantes dias já não seria possível devido ao jogo. O voo acabou no entanto por correr normalmente, e à chegada o nosso transfer aguardava-nos para uma viagem de 25-30 minutos até ao hotel onde rapidamente nos instalamos, apesar de algumas dificuldades de comunicação, uma constante em países da antiga União Soviética.

À chegada ao quarto confirmámos que as imagens de que o Estádio era mesmo junto ao hotel não eram falsas... Era mesmo como se segue.



Apesar de já passar das 17:00, hora da última visita ao estádio, dirigimo-nos lá na mesma para assim poder fazer um reconhecimento da zona, entender como deveríamos ir para o estádio no dia do jogo, e identificar a nossa porta. Tudo correu a preceito, tendo aproveitado ainda para visitar a loja do clube comprando o habitual cachecol do jogo e visitar o mini-museu do clube cujo acesso é também feito através da loja. O mini-museu é uma sala larga com alguns dos troféus do clube, e 3 personalidades em destaque: Andrej Shevchenko, Oleg Blohkin e o Lobo Valeriy Lobanovskyi. 


Museu Dynamo Kyev
Após sair do Estádio, regressamos ao hotel para deixar as compras e fomos em busca dum restaurante para jantar. Por sugestão minha, que fiquei fã de comida Georgiana, dirigimo-nos ao Mana Manana, nº17 da cidade segundo o Tripadvisor. Lá chegados, estava cheio e avisaram-nos que no próprio dia seria impossível. Fomos então à procura de outro do género, e bem perto encontrámos o Pervak, nº4 na mesma escala. Um Bentley à porta fez-nos temer o pior sobre o preço, mas os receios vieram-se a revelar infundados.
Tratava-se de um restaurante típico, com uma decoração muito própria bem como a indumentária de quem serve às mesas. Tudo impecável! Muita comida, muita bebida, uma barriga completamente cheia e no fim... 14€ de conta. Fantástico!

Pervak

Após o jantar, dirigimo-nos para o Coyote Ugly, o bar da famosa cadeia que ficou conhecida pelo filme, a qual já tínhamos visitado em São Petersburgo. A habitual garrafa de vodka a preço convidativo e não demasiado tarde acabei por recolher ao hotel. Os planos para o dia seguinte requeriam muita caminhada e o descanso seria fulcral.

Coyote Ugly

Praça da Independência
Estádio Valeriy Lobanovskyi
Pela manhã e já com o pequeno almoço tomado, arrancámos a caminhada rumo à Praça da Independência. Seguimos apenas 3, pois a noite da véspera havia feito 3 baixas: 2 continuavam a dormir, enquanto a terceira revelava um baixo teor de açúcar no sangue. Ao fim de meia hora a caminhar, chegámos à monumental praça, que tínhamos na memória devido aos confrontos de 2014. Agora, toda arranjada, é belíssima e imponente! Daí seguímos para o Estádio Dynamo Kyev, agora chamado Valeriy Lobanovskyi. Não foi possível entrar mas aproveitámos para tirar fotos à estátua do Lobo, bem como ao portal de entrada, no qual também ocorreram incidentes gravíssimos, com alguns mortos nos acontecimentos de 2014. A vantagem de Kyev é que é fácil fazer um itinerário e sectorizar as áreas a visitar. Assim sendo, logo ali ao lado dirigimo-nos ao grande arco da amizade. Este arco, num largo com vista para o rio Dnepr, simboliza a amizade entre Russos e Ucranianos. Por baixo do mesmo encontram-se duas estátuas gigantes: uma com dois soldados (um Russo e um Ucraniano e a simbolizar a amizade entre países), e outra a simbolizar um convénio da idade média. Vim a saber à posteriori que o está decidido que o arco será em breve removido pois com é sabido a amizade já não é o que era. 

Grande Arco da Amizade


Após ver a bela vista do miradouro, fomos pela estrada mais próxima do rio em direcção à zona mais a sul da cidade, passando pelo Palácio Mariinsky, ao lado do qual se encontrava um forte contingente militar e em direcção ao Mosteiro do Lavra, um dos grandes ex-libris da cidade, e à porta do qual nos encontraríamos com os dois dorminhocos da manhã. Pelo caminho ainda passámos pelo Monumento do Soldado Desconhecido, e o Memorial do Genocidio Ucraniano Holodomor. Locais simples e impactantes.

Memorial do Soldado Desconhecido
Memorial do Genocídio Holodomor

Mosteiro do Lavra



Chegámos então ao famoso Lavra. As igrejas sucedem-se dentro do Mosteiro, mas a curiosidade era para as famosas grutas. Fomos a uma, no canto oposto do mosteiro e foi algo de muito pouco ortodoxo para nós. Caminhos estreito, altares pelo caminho, no meio da escuridão. Para claustrofóbicos não é recomendado. Apesar de ser o Ex Libris da cidade (dizem...), não foi nem de perto o local que mais gostei. E saídos do Mosteiro, descemos mais um pouco para sul em direcçao à imponente estátua da Motherland, a qual se encontra no museu a céu aberto da grande guerra, onde diversos veículos bélicos são visiveis, bem como diversas esculturas enormes e fantásticas. Por baixo da estátua, aquele que foi para mim o ex libris da cidade: quase a custo zero (mas mesmo quase, nada a ver com o habitualmente assim referido no futebol) encontra-se o museu da grande guerra. Um museu com um espólio fantástico onde nos demorámos um tempo considerável e onde demos por bem gasto o nosso tempo, nem nos lembrando que ao final da tarde ainda nem sequer tínhamos almoçado.




Museu da Grande Guerra


Após a visita ao Museu, seguimos no caminho de regresso para o hotel, tendo apanhado o Metro, e saído no centro comercial perto do hotel, onde comemos qualquer coisa antes de ir descansar um pouco para o hotel. Entretanto chegou mais pessoal nosso, pelo qual esperámos para o jantar. O jantar, esse, seria na outra ponta da cidade enquanto viamos os jogos da Champions: o restaurante nº1 do Tripadvisor, de seu nome Happy Grill. A comida ? Um naco gigante de carne, absolutamente delicioso. O preço final? 21 €. Kyev é assim...

Happy Grill
Já perto da meia-noite, regressámos de metro ao hotel, aproveitando para descansar. Eu ia novamente ter um dia movimentado e em dia de bola há que estar fresquinho.

O dia de jogo, esse, fica para o próximo episódio.

MotherLand

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Born Slippy

~

Chose a club
Chose a passion
Chose a team
Chose to support
Chose to shout
Chose to believe
Chose strength
Chose faith
Chose love
Chose BENFICA!

Na semana em que saiu o trailer oficial do Trainspotting II e em que uma das últimas músicas a tocar no estridente sistema de som do maior rival do Benfica das últimas décadas foi a que dá nome a este post, penso que não poderia começar de outra forma o texto sobre um excelente fim de semana a norte...

Há umas semanas que tudo estava tratado. Saída no sábado de manhã rumo ao Porto com um casal de amigos. 
A chegada ao Porto deu-se por volta das 13:00 onde fomos directos ao Café Santiago comer a local francesinha. Mal sabíamos nós que estávamos a começar um inacreditável roteiro gastronómico. Ao almoço juntaram-se dois grandes amigos nortenhos. Após o saboroso almoço, no qual o empregado superou a prova de fogo para confirmar se era efectivamente braguista como afirmaram, os amigos seguiram para Espinho, pois havia voleibol, enquanto nós decidimos fomos tratar do checkin num confortável apartamento perto da Sé (ao qual não vou fazer publicidade para não estar ocupado quando lá voltar). Checkin feito e fomos aproveitar a tarde... 
São Bento, Aliados, Clérigos, Livraria Lello e o Frappé da sorte no Café Costa para garantir a alegria do dia seguinte.



Seguimos então novamente para a zona do Coliseu onde começou o roteiro nocturno que nos haviam sugerido. No fumdo tinham dito: "Vão jantar aos Cachorrinhos nos Poveiros, ou à Casa Guedes comer uma sandes de pernil com queijo da serra, ou então ainda podem ir aos pregos do Venham mais 5". Não nos fizemos de rogados e seguimos então até aos poveiros. E como a escolha não era a mais fácil, fomos aos 3 sítios recomendados. Uma maravilha! E uma barrigada de comida também onde a minha dieta de meses foi ao ar! Mas nada que não se resolva nos próximos dias.


Após o jantar seguimos até à Praça Dona Filipa de Lencastre para um copo com mais um amigo, após o qual recolhemos a casa, com uma pequena passagem pela Ponte D. Luis para poder ver o Douro, Gaia e a Ribeira à noite...

Na manhã seguinte, um tremendo nevoeiro assolava a zona Ribeirinha do Porto dando-lhe uma aura especial.Logo após a saída do apartamento uma Senhora trazia a indumentária perfeita.



 E seguiu-se um passeio pela Sé e a Ponte, para depois arrancarmos até Serralves para ver o Miró. Lá chegados desistimos tal era a fila. Além da fila, o trânsito na zona estava condicionado devido à Maratona do Porto. Fomos depois deixar o carro a Campanhã, tendo seguido para um almoço de Tricampeões numa zona afastada do Estádio, e voltando a Campanhã para nos juntarmos ao Cortejo.

O Cortejo foi o habitual passeio, com algumas pedras ainda a atingirem alguns dos nossos mas com algumas imagens de tanto BENFICA que há na Cidade do Porto.


Chegada ao Estádio e ínicio do jogo e se a performance no campo não foi a melhor, sobretudo na segunda parte, há que ser claro: fora do relvado foi Tudo Nosso Nada Deles. Contra um estádio que se tornou uma sala de ópera onde, depois dos 80 minutos dum clássico que estão a ganhar, precisam do empurrão do speaker, não se pode pedir muito...
Até que chegou o minuto 92. Golo. BRUAAAAAAAAAAAAAAAAH.

E o estádio ficou vazio, e voltamos então ao fabuloso sistema de som do Dragão que não serviu para anunciar as substituições do Benfica mas serviu para nos fazer vibrar com o grande som do Trainspotting. Porque hoje é dia de ressaca: para eles que deixaram de ganhar o jogo da vida deles, para nós porque ao fim de 10 jogos de Liga, com meia equipa no estaleiro saímos do Dragão com 5 pontos de avanço sobre os segundos classificados.

Porque enquanto o Benfica tiver o Seu Povo, estará sempre mais perto de ganhar. Porque para nós é muito simples. Nada nem ninguém é maior que o Benfica e acima de Nós, Ninguém! E foi por isso que fomos com Tudo!





VIVA O SPORT LISBOA E BENFICA!!!

P.S. Sei que estou em falta! Kyev sai esta semana :)

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Mário Wilson. O Capitão Mário Wilson


Não tem sido fácil desde ontem à noite. De tal maneira que num blog destinado a viagens e aventuras, abri uma excepção para falar de uma pessoa. Para se ter uma noção, e sem menosprezo para ninguém nem qualquer desconsideração, e como cada pessoa tem as suas referências, eu desde novo tinha 3 lendas vivas do Benfica: Mário Coluna, Mário Wilson e Toni. Infelizmente apenas sobra o Senhor Toni. (Nota: Há muito Benfiquismo vivo ainda nos dias de hoje, José Augusto, Shéu, José Henrique entre muitos outros não estão esquecidos. Apenas para mim, estes três monstros eram especiais...)



Fui ontem jantar com a família, ao ínicio do jantar o telefone recebe uma notificação "Morreu Mario Wilson". Fui atravessado por um raio. Sabia da sua débil condição desde há uns meses, mas nunca estamos preparados para ver partir pessoas que são, para nós imortais.

Mário Wilson era carismático, um Senhor, um Amigo da família, um tremendo contador de histórias, uma pessoa unânime no futebol português, algo praticamente impossível dado o lodo que grassa no mesmo. Por isso é que há pessoas especiais, e o Capitão era uma delas.

Cedo veio para Portugal, onde jogou no Sporting, mas foi em Coimbra onde assentou arraiais, onde ganhou o epíteto de Velho Capitão. Na cidade pela qual se apaixonou, e pelo clube que foi a sua segunda paixão, e onde o meu Pai acabaria por conhecê-lo. E da vivência do Capitão em Coimbra que me chegaram as primeiras histórias do mesmo. Do Capitão, do Toni, do Quinito e do Artur Jorge. E é daí que vem a minha admiração pelos dois primeiros, praticamente desde berço.

No que ao nosso clube diz respeito, Mario Wilson nunca lhe virou as costas. Apesar de só ter chegado ao Benfica já na ternura dos 40, o Benfica já lhe tinha chegado desde berço como o próprio disse num dos mais brutais discursos da centenária história do nosso clube, ou não tivesse ele sido jogador do Desportivo de Lourenço Marques. O Capitão que nunca disse que não ao Benfica, curiosamente só por uma vez teve quase a fazê-lo, e foi na sua primeira vinda para cá. Mas o destino estava escrito e Mário Wilson veio mudar a frase de "Nenhum treinador português é Campeão no Benfica" para "No Benfica qualquer treinador se arrisca a ser Campeão".


Nessa altura era o grande Benfica, e após essas duas aventuras enquanto técnico do clube, na década de 70, Mario Wilson andou numa roda viva de clubes, qual GlobeTrotter, em Portugal (Académica, Estoril, Cova da Piedade, Louletano, Torreense, Olhanense...)  e também em Marrocos, concluiu a época de 1994-1995.


Foi então que regressou à Luz, ao seu Teatro dos Sonhos. Primeiro como membro do Staff técnico, depois como treinador interino onde ganhou uma Taça de Portugal no pior período da nossa história. Nos dois anos seguintes voltaria a assumir o cargo, interinamente, por duas vezes (ainda recentemente se falava duma vitória em Chaves sob o seu comando), e pelo meio treinador do Alverca quando este era o clube satélite do clube.


Mario Wilson nunca virou as costas, e se o Benfica o chamasse limitava-se a sorrir. Porque era o Benfica.

O Benfica é uma lenda. E se o é, é por pessoas como o Capitão.

O Capitão Amigo, o Capitão Unânime, o Capitão Contador de histórias, o Capitão apaixonado. O Capitão que dizia que "Genial só há um, João Pinto e mais nenhum" e que adorava os pezinhos do Panduru, lamentando a falta de vontade do mesmo. O Capitão visionário. O segundo pai de Toni.

A Lusofonia ficou mais pobre. Portugal e Moçambique ficaram mais pobres. Coimbra ficou mais pobre. O Desporto português ficou mais pobre. O Futebol português ficou mais pobre. O Sport Lisboa e Benfica ficou mais pobre. Com esta dificuldade apenas digo, Deus conserve todos os nossos símbolos, mas perdoem-me o desplante, que conserve mesmo o Filho Branco do Capitão. O Senhor Toni.


Há muito tempo que queria levar o Capitão (e o seu filho branco) a um convívio de Benfiquistas que certamente ficariam deliciados com as suas histórias. Infelizmente esse dia não chegou a acontecer. Mas na tertúlia lá em cima, já se devem esfregar as mãos... Hoje prestarei a minha homenagem. E com algo reconfortante: ao contrário do que outrora sucedeu, o Capitão não acaba esquecido. Acaba, isso sim, amado. Pelos seus, e pelos que ajudou a criar, mesmo que não saiba. Porque todos nós somos Mario Wilson quando pensamos no que mais gostamos.

Viva o Capitão. Uma Lenda Imortal.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Napoli vs Benfica: uma ida à cidade que não sorri





Desde que foi o sorteio, que estava gerada a expectativa. O Benfica ia voltar a Itália, desta vez a uma cidade sisuda, que quem conhecia me descrevia da seguinte forma: "Aproveita-se a marginal na zona do castelo, de resto é uma cidade suja, com um transito inacreditável e onde todos desconfiam de todos". Sabiamos que íamos estar também num dos ambientes Ultra mais fechados de Itália. Perante uns adeptos que odeiam tudo e todos e orgulham-se disso.

Dada a forma como a mesma me foi descrita, pode-se dizer que praticamente tudo correspondeu ao que me haviam dito. Mas lá chegaremos.

A logística não foi fácil, mas a forma encontrada foi voar para Roma, onde dormiríamos na véspera do jogo, seguir perto da hora de almoço para Nápoles, dormir lá após o jogo (era inevitável pois não havia comboio de regresso após o jogo e as recentes experiências de aluguer de carro em Itália recomendavam-me a não fazê-lo), voltar cedinho no dia pós jogo para Roma, e a meio da tarde voar para Lisboa.

Tudo em contra-relógio portanto, o que no caso de Nápoles se justifica, mas no caso de Roma não. Nunca, jamais em tempo algum. Roma é uma cidade soberba, mágnífica sobre a qual me faltam adjectivos para a descrever. Quando alguém me diz que vai a Roma e não se apaixona pela cidade só posso deduzir que está a mentir. Aliás, não o deduzo porque nunca ninguém o fez. Parece-me esclarecedor...

Foi assim que ao final da tarde embarcámos rumo a Roma, o voo correu tranquilamente, tinhamos a preocupação sobre a forma de ir de Ciampino para Termini pois um eventual atraso faria com que perdessemos o último shuttle para a cidade mas tal não sucedeu e até Termini tudo correu bem. 
À porta de Termini aguardava-nos um conhecido Romano que mostrou que os Grandes sabem sempre receber bem. Não nos surpreendeu. Dada a hora tardia (perto da 1 da manhã local) rapidamente nos despedimos e seguimos para o hotel fazer o checkin, uma pequena caminhada de 5 minutos, tendo acordado o recepcionista para nos podermos instalar.






Instalados, internet a bombar nos dispositivos móveis e tudo ok para irmos à rua comer qualquer coisa. Um estabelecimento de fast food indiano logo ali foi o nosso pronto socorro para metermos algo no estomâgo enquanto dois estrangeiros tentavam por ali conseguir um local para dormir havendo um ambiente estranho. Não era claramente recomendado nos alongarmos por ali. Comemos e regressámos ao hotel. Pelo menos dois de nós, porque ainda havia um intercâmbio euro-asiático na Piazza di Santa Maria Maggiore.



Na manhã seguinte, dia de jogo. Após acordar e tomar o pequeno almoço, seguimos tranquilamente para Termini onde nos aguardava o comboio regional rumo a Napoli, viagem com a duração prevista de 2h45.

Entre conversas e vistas engraçadas pelas janelas, a viagem até se fez bem, tendo a última meia hora da mesma sido feita já com o Vesúvio na vista: é imponente e salta claramente à vista.



À chegada à Stazione Centrale de Napoli, além do calor que se fazia sentir e da Napoli Store que nem cachecóis tinha, percebemos que não estavamos em zona de conforto. A cada passo dado, a sensação de estar a ser observado Ainda na Praça Garibaldi, paragem num quiosque para despachar a questão dos ímans locais.
A 5 minutos da estação, se calhar nem tanto, estava o nosso hotel, onde fomos bem recebidos. Um pequeno hotel, onde logo se disponibilizaram para nos servir o pequeno almoço no dia do check out antes da hora pré estabelecida (só servem às 7:30, mas o nosso comboio seria às 7:45). O nome ? CineHoliday Hotel, um hotel decorado com personagens e cenas de cinema e onde os quartos têm nomes de actores. O nosso ? Marylin Monroe! Fácil!


Enquanto arrumávamos as coisas, fomos debatendo qual seria o plano para a tarde e ficou definido que seguiriamos dali directos para o meeting point, pela principal avenida da cidade, a Corso Umberto I, e se pelo caminho houvesse algo para comer, almoçaríamos aí.
Enveredámos então pelos dois quilómetros de caminhada que nos aguardavam sem qualquer percalço, mas sem encontrar nada em especial para comer, até que já com o castelo da cidade à vista, o qual ficava à frente do meeting point, saímos da avenida principal ao ver uma pequena pizzaria. Nessa rua um pequeno grupo de Napolitanos ficou em observação, e com a sensação de que iriam tentar algo. Dentro do restaurante alertavam-nos que o grupo de cinco napolitanos estava do lado de fora à nossa espera, mas fugir dali não era solução. Na verdade vimos que eles estavam, quando entrámos no restaurante, na única saída que sabíamos onde ia dar, e não fazia sentido andar a arriscar outras. Assim sendo, comemos e no final da refeição, felizmente, já não se encontravam lá, quiçá vencidos pelo cansaço. 
Sem mais demoras, seguimos para o meeting point: a Stazione Maritima onde se apanham os barcos para Capri, entre outros, e que distava 100m do nosso restaurante. 
Esta zona da Stazione Maritima e do Castelo parece ser de facto a mais bonita da cidade, para não dizer a única. Tem é o problema de estar tudo em obras e o cenário estragado. E o acesso à beira rio é negado, por ser propriedade da Marinha Italiana e tirar fotos não fica de todo nada acessível.


Por volta das 17:30 locais, a 3 horas e 15 minutos do ínicio do jogo, os agentes da autoridade locais já se mostravam apressados para sair para o Stadio San Paolo. Não entendíamos bem a pressa para seguir para um estádio que se encontrava a 6 km de distãncia a pé. Começavam aí as más surpresas...


Para entrar no autocarro, todos os adeptos tinham de ser revistados, tirar o cinto, com a promessa que o mesmo seria devolvido após o jogo (conseguimos ir à pressa guardar os nossos no quarto dum de nós que estava hospedado a 100 metros), e ser fotografados com a identificação e o bilhete do jogo à frente, qual presidiário ou criminoso. 



Após todos os adeptos, um a um, terem passado pelo processo descrito, os 4 ou 5 autocarros foram arrancando rumo ao Estádio. Estranhámos que o percurso adoptado estivesse a ser contrário à direcção do estádio, mais tarde percebemos porquê. Para chegar a um estádio que estava a 6km apé de distância, fomos brindados com um passeio de 61 km de autocarro, em hora de ponta numa cidade que, já de si, tem um trânsito infernal. Pelo meio ainda deu para ver o sunset na costa italiana...

61 km depois, já com noite cerrada, chegámos ao San Paolo. Nenhum adepto Napolitano perto da nossa porta, elevadíssimo dispositivo policial, a entrada fez-se após mais uma apertada revista, como se tudo o que passámos antes não chegasse. 
Entrámos, a pouco e pouco o sector foi-se compondo, só que a totalidade dos adeptos só se encontrou lá dentro perto do intervalo: quem foi de carro acabou por pagar a factura do transito caótico da cidade.

Lá dentro, perdoem-me, mas foi inesquecível. Se na primeira parte o resultado nos pareceu injusto, com um 1-0 ao intervalo e um bom apoio da nossa parte, ao calamitoso ínicio da segunda parte dentro das quatro linhas, associou-se um incrível apoio de todos os Benfiquistas presentes sem excepção. Porque todos os presentes têm a noção que há algo que ao Benfica nunca poderá faltar: a sua voz! Aquela que representa o nosso amor. E essa, nunca faltou e nunca faltará. 1-0, 2-0, 3-0, 4-0, 4-1, 4-2, Apito final. A única constante em tudo isto foi a nossa voz, que nem os muitos quilómetros de viagem e cansaço conseguiram calar. A que foi reconhecida por todo o plantel ao agradecer a um sector onde não se notava que o jogo tinha terminado pois o silêncio só apareceu depois de todas as equipas recolherem aos balneários.
Após uma meia hora retido nas bancadas, abertas as portas para o regresso aos autocarros: Coincidente a esta abertura, deu-se a devolução dos cintos: aos que foram individualmente, tudo ao desbarato à porta do estádio, qual feira da ladra, aos que foram nos autocarros, cada um tinha o saco com os cintos dos seus passageiros. Mas qualquer um podia lá entrar...
Deu-se então o regresso à Stazziona Maritima. O assunto era as situações de aperto, ou semelhantes, que alguns de nós tínhamos vivido durante o dia durante um caminho mais curto que o do pré jogo e onde todos desmobilizaram assim que chegámos. Fomos guardar as coisa no hotel onde ficaram os nossos cintos, saímos para jantar a pior sandes de sempre, recuperámos as coisas e voltámos ao hotel para descansar. Já passava da uma da manhã e às 6:30 já nos estávamos a levantar.


Pequeno almoço tomado, checkout e saída para a estação. Às 7:45 arrancou o comboio rápido rumo a Roma. A viagem durou 1:10 e foi da noite para o dia. Passámos da cidade que não sorri, para a cidade dos sonhos. Onde te abordam com um sorriso na cara, onde te tentam convencer a comprar bilhetes para ir ver a Roma, onde há inúmeros turistas, onde há um coliseu de sonho, onde andas durante 7 quilometros, vês alguns dos grandes ex-libris da cidade (e são tantos que nunca ninguém terá visto tudo), compras uma camisola da lenda Francesco Totti e nem uma vez tens uma sensação de desconfiança das pessoas com quem te cruzas. Pelo meio, um almoço na Prosciutteria Trevi, bem perto da Fonte de mesmo nome. Uma excelente indicação do João Gonçalves que obviamente não desiludiu. Que maravilha...




Uma cidade diferente, uma cidade tremenda, repleta de história, com colinas e uma cor que me é tão familiar... Onde já vi isto ? Em Lisboa, claro.


Retornados a Termini, apanhámos o Shuttle para Ciampino, onde um pontual voo para Lisboa nos esperava.




Foi uma experiência diferente. Napoli é feia, sisuda e repleta de desconfiança. O Vesúvio ao longe impõe respeito, e para esse lado sim tenho vontade de conhecer melhor. O melhor da viagem ? A experiência enriquecedora e o regresso a Roma que é sempre maravilhosa e que me aguça a vontade de lá voltar.


De resto já só pensamos em Kyev.

BENFICA I WILL FOLLOW!