sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Napoli vs Benfica: uma ida à cidade que não sorri





Desde que foi o sorteio, que estava gerada a expectativa. O Benfica ia voltar a Itália, desta vez a uma cidade sisuda, que quem conhecia me descrevia da seguinte forma: "Aproveita-se a marginal na zona do castelo, de resto é uma cidade suja, com um transito inacreditável e onde todos desconfiam de todos". Sabiamos que íamos estar também num dos ambientes Ultra mais fechados de Itália. Perante uns adeptos que odeiam tudo e todos e orgulham-se disso.

Dada a forma como a mesma me foi descrita, pode-se dizer que praticamente tudo correspondeu ao que me haviam dito. Mas lá chegaremos.

A logística não foi fácil, mas a forma encontrada foi voar para Roma, onde dormiríamos na véspera do jogo, seguir perto da hora de almoço para Nápoles, dormir lá após o jogo (era inevitável pois não havia comboio de regresso após o jogo e as recentes experiências de aluguer de carro em Itália recomendavam-me a não fazê-lo), voltar cedinho no dia pós jogo para Roma, e a meio da tarde voar para Lisboa.

Tudo em contra-relógio portanto, o que no caso de Nápoles se justifica, mas no caso de Roma não. Nunca, jamais em tempo algum. Roma é uma cidade soberba, mágnífica sobre a qual me faltam adjectivos para a descrever. Quando alguém me diz que vai a Roma e não se apaixona pela cidade só posso deduzir que está a mentir. Aliás, não o deduzo porque nunca ninguém o fez. Parece-me esclarecedor...

Foi assim que ao final da tarde embarcámos rumo a Roma, o voo correu tranquilamente, tinhamos a preocupação sobre a forma de ir de Ciampino para Termini pois um eventual atraso faria com que perdessemos o último shuttle para a cidade mas tal não sucedeu e até Termini tudo correu bem. 
À porta de Termini aguardava-nos um conhecido Romano que mostrou que os Grandes sabem sempre receber bem. Não nos surpreendeu. Dada a hora tardia (perto da 1 da manhã local) rapidamente nos despedimos e seguimos para o hotel fazer o checkin, uma pequena caminhada de 5 minutos, tendo acordado o recepcionista para nos podermos instalar.






Instalados, internet a bombar nos dispositivos móveis e tudo ok para irmos à rua comer qualquer coisa. Um estabelecimento de fast food indiano logo ali foi o nosso pronto socorro para metermos algo no estomâgo enquanto dois estrangeiros tentavam por ali conseguir um local para dormir havendo um ambiente estranho. Não era claramente recomendado nos alongarmos por ali. Comemos e regressámos ao hotel. Pelo menos dois de nós, porque ainda havia um intercâmbio euro-asiático na Piazza di Santa Maria Maggiore.



Na manhã seguinte, dia de jogo. Após acordar e tomar o pequeno almoço, seguimos tranquilamente para Termini onde nos aguardava o comboio regional rumo a Napoli, viagem com a duração prevista de 2h45.

Entre conversas e vistas engraçadas pelas janelas, a viagem até se fez bem, tendo a última meia hora da mesma sido feita já com o Vesúvio na vista: é imponente e salta claramente à vista.



À chegada à Stazione Centrale de Napoli, além do calor que se fazia sentir e da Napoli Store que nem cachecóis tinha, percebemos que não estavamos em zona de conforto. A cada passo dado, a sensação de estar a ser observado Ainda na Praça Garibaldi, paragem num quiosque para despachar a questão dos ímans locais.
A 5 minutos da estação, se calhar nem tanto, estava o nosso hotel, onde fomos bem recebidos. Um pequeno hotel, onde logo se disponibilizaram para nos servir o pequeno almoço no dia do check out antes da hora pré estabelecida (só servem às 7:30, mas o nosso comboio seria às 7:45). O nome ? CineHoliday Hotel, um hotel decorado com personagens e cenas de cinema e onde os quartos têm nomes de actores. O nosso ? Marylin Monroe! Fácil!


Enquanto arrumávamos as coisas, fomos debatendo qual seria o plano para a tarde e ficou definido que seguiriamos dali directos para o meeting point, pela principal avenida da cidade, a Corso Umberto I, e se pelo caminho houvesse algo para comer, almoçaríamos aí.
Enveredámos então pelos dois quilómetros de caminhada que nos aguardavam sem qualquer percalço, mas sem encontrar nada em especial para comer, até que já com o castelo da cidade à vista, o qual ficava à frente do meeting point, saímos da avenida principal ao ver uma pequena pizzaria. Nessa rua um pequeno grupo de Napolitanos ficou em observação, e com a sensação de que iriam tentar algo. Dentro do restaurante alertavam-nos que o grupo de cinco napolitanos estava do lado de fora à nossa espera, mas fugir dali não era solução. Na verdade vimos que eles estavam, quando entrámos no restaurante, na única saída que sabíamos onde ia dar, e não fazia sentido andar a arriscar outras. Assim sendo, comemos e no final da refeição, felizmente, já não se encontravam lá, quiçá vencidos pelo cansaço. 
Sem mais demoras, seguimos para o meeting point: a Stazione Maritima onde se apanham os barcos para Capri, entre outros, e que distava 100m do nosso restaurante. 
Esta zona da Stazione Maritima e do Castelo parece ser de facto a mais bonita da cidade, para não dizer a única. Tem é o problema de estar tudo em obras e o cenário estragado. E o acesso à beira rio é negado, por ser propriedade da Marinha Italiana e tirar fotos não fica de todo nada acessível.


Por volta das 17:30 locais, a 3 horas e 15 minutos do ínicio do jogo, os agentes da autoridade locais já se mostravam apressados para sair para o Stadio San Paolo. Não entendíamos bem a pressa para seguir para um estádio que se encontrava a 6 km de distãncia a pé. Começavam aí as más surpresas...


Para entrar no autocarro, todos os adeptos tinham de ser revistados, tirar o cinto, com a promessa que o mesmo seria devolvido após o jogo (conseguimos ir à pressa guardar os nossos no quarto dum de nós que estava hospedado a 100 metros), e ser fotografados com a identificação e o bilhete do jogo à frente, qual presidiário ou criminoso. 



Após todos os adeptos, um a um, terem passado pelo processo descrito, os 4 ou 5 autocarros foram arrancando rumo ao Estádio. Estranhámos que o percurso adoptado estivesse a ser contrário à direcção do estádio, mais tarde percebemos porquê. Para chegar a um estádio que estava a 6km apé de distância, fomos brindados com um passeio de 61 km de autocarro, em hora de ponta numa cidade que, já de si, tem um trânsito infernal. Pelo meio ainda deu para ver o sunset na costa italiana...

61 km depois, já com noite cerrada, chegámos ao San Paolo. Nenhum adepto Napolitano perto da nossa porta, elevadíssimo dispositivo policial, a entrada fez-se após mais uma apertada revista, como se tudo o que passámos antes não chegasse. 
Entrámos, a pouco e pouco o sector foi-se compondo, só que a totalidade dos adeptos só se encontrou lá dentro perto do intervalo: quem foi de carro acabou por pagar a factura do transito caótico da cidade.

Lá dentro, perdoem-me, mas foi inesquecível. Se na primeira parte o resultado nos pareceu injusto, com um 1-0 ao intervalo e um bom apoio da nossa parte, ao calamitoso ínicio da segunda parte dentro das quatro linhas, associou-se um incrível apoio de todos os Benfiquistas presentes sem excepção. Porque todos os presentes têm a noção que há algo que ao Benfica nunca poderá faltar: a sua voz! Aquela que representa o nosso amor. E essa, nunca faltou e nunca faltará. 1-0, 2-0, 3-0, 4-0, 4-1, 4-2, Apito final. A única constante em tudo isto foi a nossa voz, que nem os muitos quilómetros de viagem e cansaço conseguiram calar. A que foi reconhecida por todo o plantel ao agradecer a um sector onde não se notava que o jogo tinha terminado pois o silêncio só apareceu depois de todas as equipas recolherem aos balneários.
Após uma meia hora retido nas bancadas, abertas as portas para o regresso aos autocarros: Coincidente a esta abertura, deu-se a devolução dos cintos: aos que foram individualmente, tudo ao desbarato à porta do estádio, qual feira da ladra, aos que foram nos autocarros, cada um tinha o saco com os cintos dos seus passageiros. Mas qualquer um podia lá entrar...
Deu-se então o regresso à Stazziona Maritima. O assunto era as situações de aperto, ou semelhantes, que alguns de nós tínhamos vivido durante o dia durante um caminho mais curto que o do pré jogo e onde todos desmobilizaram assim que chegámos. Fomos guardar as coisa no hotel onde ficaram os nossos cintos, saímos para jantar a pior sandes de sempre, recuperámos as coisas e voltámos ao hotel para descansar. Já passava da uma da manhã e às 6:30 já nos estávamos a levantar.


Pequeno almoço tomado, checkout e saída para a estação. Às 7:45 arrancou o comboio rápido rumo a Roma. A viagem durou 1:10 e foi da noite para o dia. Passámos da cidade que não sorri, para a cidade dos sonhos. Onde te abordam com um sorriso na cara, onde te tentam convencer a comprar bilhetes para ir ver a Roma, onde há inúmeros turistas, onde há um coliseu de sonho, onde andas durante 7 quilometros, vês alguns dos grandes ex-libris da cidade (e são tantos que nunca ninguém terá visto tudo), compras uma camisola da lenda Francesco Totti e nem uma vez tens uma sensação de desconfiança das pessoas com quem te cruzas. Pelo meio, um almoço na Prosciutteria Trevi, bem perto da Fonte de mesmo nome. Uma excelente indicação do João Gonçalves que obviamente não desiludiu. Que maravilha...




Uma cidade diferente, uma cidade tremenda, repleta de história, com colinas e uma cor que me é tão familiar... Onde já vi isto ? Em Lisboa, claro.


Retornados a Termini, apanhámos o Shuttle para Ciampino, onde um pontual voo para Lisboa nos esperava.




Foi uma experiência diferente. Napoli é feia, sisuda e repleta de desconfiança. O Vesúvio ao longe impõe respeito, e para esse lado sim tenho vontade de conhecer melhor. O melhor da viagem ? A experiência enriquecedora e o regresso a Roma que é sempre maravilhosa e que me aguça a vontade de lá voltar.


De resto já só pensamos em Kyev.

BENFICA I WILL FOLLOW!

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Juventus - Benfica: Lição de tudo!



Depois de na época anterior o Benfica ter sido finalista vencido da Liga Europa, estávamos novamente nas meias finais da competição. O adversário era a Juventus, o mais dificil que poderia haver. A Juventus seria tambem o detentor do estádio onde se diputaria a final, e era o clube do coração de Platini, o presidente da UEFA. Tudo dificuldades portanto. Mas mais uma vez o Benfica mostraria a fibra de que é feito e sempre o acompanhou ao longo da sua Gloriosa História.
Depois de uma primeira mão onde, uma vitória à tangente por 2-1 deixava esperançosos os adeptos, e num jogo em que uma frase a honrar o Grande Torino, apesar de contestada internamente, teve um tremendo impacto em Portugal, Itália e em toda a Europa, a ida a Turin prometia.

Com tudo organizado, partimos dia 30 de Abril de 2014 rumo a Marselha. Chegados a Marselha
levantámos os nossos dois carros e seguimos via Côte d’Azur. Após uma breve paragem entre Cannes e Nice, e uma passagem junto ao novo Allianz Riviera, chegámos a Monte Carlo para ver o por do sol. E não só…
No fim de semana que se seguia, teria lugar o Grande Prémio de Monte Carlo, o que fez com que toda a pista tivesse já montada, sem qualquer impedimento ao trânsito. A sensação foi fabulosa, foi reviver inúmeros domingos à tarde, mas desta vez ao volante! Fantástico! Primeira imagem a ficar para sempre!




Após esta incrível sensação foi tempo de arrepiarmos caminho pois ainda tínhamos muita estrada para percorrer até chegarmos a Turin.
A chegada deu-se já noite dentro, mas a tempo de deixar as coisas no hotel (o qual estava lotado) e ainda ir dar uma volta pela cidade para tomar um copo enquanto alguns ficavam a dormir. Ficou combinado acordar cedo, tomar o pequeno almoço e seguir para Superga onde prestaríamos a nossa homenagem.



Assim foi, e logo pela manhã fomos a Superga. A partir deste momento, todo e qualquer adjectivo a definir o quão fantástico foi o que sentimos não será exagerado. Este dia, 1 de Maio de 2014, será sempre um dos mais memoráveis da minha vida, porque resume em menos de 24 horas tudo o que aprendi e sonhei que fosse o futebol ao longo da minha vida.
Chegados ao parque de estacionamento junto à Basílica, parámos os carros e saímos. Aproveitando o feriado, havia uma tremenda peregrinação a Superga. Inúmeros adeptos do Toro abordaram-nos assim que percebiam que éramos do Benfica e repetiam constantemente uma palavra: “Obrigado”. Ainda em frente à Basílica pediram-nos para tirar algumas fotos connosco. 
Dirigimo-nos então à parte de trás da Basílica, onde se encontra o memorial. Lá chegados prestámos a nossa homenagem e vi das imagens mais marcantes de que me recordo em muitas viagens atrás do Benfica: um Senhor, já com uma certa idade, além de entregar a um de nós o seu cachecol do Toro, cumprimentou-nos com uma tremenda vénia que a mim me deixou totalmente sem palavras. Para se ter uma noção, o momento em questão traz-me à cabeça o cumprimento de Cesare Maldini a Mário Esteves Coluna. É com essa reverência que o Benfica é tratado em Turin, pelos adeptos do clube que perdeu a sua melhor equipa da história quando veio homenagear Francisco Ferreira.


Voltámos posteriormente para os carros e encaminhámo-nos para o bar Sweet, a casa dos Ultras Granata em frente ao Estádio Filadefia. Lá chegados, oferecemos um quadro com a foto da frase mostrada na Luz, no jogo da primeira mão. Os mesmos mostravam-se entusiasmados com a hipótese do Benfica eliminar o seu maior rival. De seguida, após nos mostrarem as suas instalações, abriram-nos as portas do Estádio Filadelfia onde ainda tirámos umas quantas fotos antes de seguiremos para o almoço. Um almoço animado, com alguns deles, onde se ouviam cânticos pró-Benfica, anti-juve e pró Toro, o qual acabou bem regado com copos de Amaro para começar a afinar as gargantas. 



Após o regado almoço, seguimos para a principal avenida da cidade onde passámos a tarde num pub repleto de adeptos do Toro que festejava a passagem de qualquer pessoa do Benfica. Ao lado deste pub encontrava-se uma interessante livraria, que infelizmente estava fechada por ser feriado.
No Pub, e na avenida, continuava a festa e o optimismo ia crescendo ao longo da tarde. Moment
os de tensão, apenas um, quando passou um carro com adereços da Juventus, momento esse que levou à intervenção da Digos. Após esse momento, o bom ambiente continuou e a meio da tarde iniciamos o nosso cortejo ao longo da avenida, rumo ao Meeting Point onde os autocarros municipais nos levariam para o Juventus Stadium. Junto aos autocarros, mais um incidente que não impediu, no entanto, ninguém de seguir rumo ao Estadio.

Chegados à envolvente, após atravessar uma cidade que gritava e gesticulava incentivando o Sport Lisboa e Benfica, qualquer pessoa concluía: os Granata não queriam só que a Juventus perdesse. Eles queriam também que o Benfica ganhasse. Pode parecer a mesma coisa, mas não é…
Após uma breve incursão às roulottes em frente ao estádio, encontrei o responsável pelo Museu do
Grande Torino. Uma bela conversa ajudou a disfarçar a ansiedade que sentia. Já só queria entrar. Já só queria ganhar…

Ainda antes de se iniciar o aquecimento da equipa entrei. Entrei no estádio, soube o onze e senti que íamos passar. E passámos! Um heróico 0-0 a acabar o jogo com 9 mas que me fez sofrer como poucas vezes na vida, tendo inclusivamente saído das bancadas durante uns minutos tal era o meu nível de ansiedade. Após o final ? Bem, assim que foi o apito final, com defesas fantásticas, cortes maravilhosos, arbitragem medíocre e festival a adeptos gobbos depois, desatei a chorar. A chorar muito! Um tremendo choro de felicidade de ter acompanhado toda a campanha europeia nessa época e saber que ia terminar na final, no sítio onde só chegam os melhores! E nós estávamos lá! Comecei desde logo a pensar em marcar a viagem, mas problemas com o cartão não mo permitiram, mas acreditei que conseguiria ainda tratar disso em Lisboa, o que felizmente veio a confirmar-se!


Após o final do jogo e da tremenda festa ainda no estádio, dirigimo-nos aos mesmos autocarros que nos levaram ao meeting point, donde caminhámos para os carros já debaixo dum diluvio. Não havia dúvidas, também São Pedro já chorava de alegria! 
Dirigimo-nos para o Sweet, onde fomos recebidos em autêntica festa e onde convivemos um pouco, com promessa de regresso daí a 15 dias, antes de regressar ao hotel onde adormecer ao som de L’Italiano do Toto Cutugno será sempre algo que recordarei.
Na manhã seguinte, à descida para o pequeno almoço percebemos que o hotel estava cheio de adeptos eliminados na véspera. Na nossa viagem de elevador, o Y. encarregou-se de cumprimentar um com pompa e circustância, enquanto no restaurante encontrámos mais uns quantos. Todos com cara de maus amigos. Eles não estavam à espera, de todo, do que aconteceu. A festa estava preparada, tudo queria que a Juve chegasse à final mas não aconteceu. O Grande Benfica não deixou. O desespero chegou ao ponto de no túnel do balneário terem ficado histórias por contar 
Tomado que estava o pequeno almoço era hora de nos fazermos novamente à estrada. Um caminho diferente, com um túnel extremamente caro, levou-nos até ao aeroporto de Marselha, mas desta vez por Grenoble, onde ainda passámos junto ao Stade des Alpes, e com chuva constante. 



Chegámos a Marselha, onde embarcámos rumo a Lisboa. Estávamos felizes. Estávamos muito felizes.

E eu tinha ido ao paraíso vivendo um dia que nunca terei palavras para descrever, nem com tão longa crónica como esta. Falo carinhosamente deste dia como a nossa final. E que a ganhámos.

O Benfica é isto. O Benfica será sempre isto!



1904

domingo, 18 de setembro de 2016

Inter vs SL Benfica ou a invasão das invasões


Na época da minha estreia em deslocações europeias, acabei por regressar alguns meses depois a Itália. Depois do Olímpico de Roma, seguiu-se o Giuseppe Meazza.
A preparação da viagem acabou por não ter muito que saber: o grupo ao qual pertenço ia de charter e portanto por uma vez a logística acabou por ficar para outros, e antes do dia da viagem pouco houve a fazer.
Ainda o sol não tinha nascido quando fui à boleia do meu Pai para o aeroporto, aproveitando para dar boleia ao M. que morava bem perto de mim na altura.
Chegado ao aeroporto a azáfama habitual, malta preparada para o frio alpino que nos esperava na capital da moda. Até que de repente chegam dois amigos de calções e tshirt. Perguntávamos-lhes como podiam eles ir assim para Milão ? A resposta era fácil: não iam! Estavam ali porque iam para a viagem de finalistas no Brasil. Mas ainda deu um bom momento de paródia
Entretanto resolvida toda a burocracia aeroportuária, lá embarcámos e seguimos para Milan Malpensa. Tudo calmo excepto para o Y. que estava um tanto ao quanto nervoso no avião e que até acabou por resolver voltar de carrinha tal era o seu receio dos ares. Mas lá chegaremos…



Aterrados em terras transalpinas, seguiu-se a viagem de autocarro para Milão com a bela imagem das montanhas cheias de neve ao longe, e até ao Castello Sforesco no centro de Milão, onde os autocarros ficaram estacionados.
Saídos daí o programa estava estabelecido: íamos até à principal Praça da cidade ver o Duomo, espreitar as galerias Vittorio Emanuele, depois íamos à loja da Coolness e finalmente à sede da Alternativa Rossonera para tentarmos arranjar algum material.
Assim dito, assim feito: umas duas centenas de metros até à praça do Duomo e, a catedral estava tapada por andaimes. Primeiro KO do dia. Fomos então espreitar as galerias Vittorio Emanuele que são coladas à praça. Mas só mesmo espreitar, porque comprar algo ali estava fora de questão.
Começámos então a nossa caminhada rumo à Coolness: pouco menos de 4 km, A loja era interessante, mas eu pelo menos acabei por não trazer nada pois não eram os preços mais acessíveis. Seguimos então rumo à sede da Alternativa Rossonera onde, aí sim, contava comprar alguma coisa: andámos, andámos, andámos, andámos e andámos. Muito. Até que chegámos ao local indicado: um café onde nos informara, que os rapazes só se reuniriam, na melhor das hipóteses, à noite. Uma viagem muito proveitosa, como se viu! E pior! Tudo o que andámos, tínhamos de andar de volta… E lá caminhámos de volta para o Castello Sforesco onde nos esperavam os autocarros que nos levariam para o Giuseppe Meazza.
Lá chegados, a primeira nota: o estádio é, efectivamente, imponente e as colunas que compoem as escadas de acesso aos anéis superiores são magníficas. Enquanto um amigo ia ao lado nerrazurri tentar arranjar, com sucesso, uns cachecois, fomos entrando. Por dentro o estádio era igualmente imponente, mas o ar de gaiola retirava-lhe (muita) beleza.



O primeiro anel da Sud foi-se compondo tal era o mar de Benfiquistas presentes que até os Carabinieri estavam impressionados. Foi mesmo muita, muita gente do Benfica. Do outro lado, os Ultras Nerrazurri estavam em protesto tendo-se mantido em silêncio muito tempo (Parece uma sina das Tours Italianas: aconteceu em Florença, em Roma, em Milão...). A determinada altura, um bombardeamento de petardos: parecia o faroeste.



O Benfica entrou Sem Medo e começou a ganhar com um golaço de Nuno Gomes, tendo ainda atirado uma bola ao poste na primeira parte, novamente pelo Nuno, e com o Armando a fazer uma exibição inacreditável a lateral esquerdo. Um golo perto do intervalo após uma jogada Maradoniana daquele que viria a tornar-se o nosso Zorba Grego uns anos mais tarde, Karagounis, refreou os ânimos, tendo o Inter dado a volta na segunda parte mas com o Benfica sempre na luta, com belos golos, mas que acabou por sair derrotado por 4-3, e sendo assim eliminado. No final os jogadores agradeceram à fantástica massa adepta o tremendo apoio. Mas tinha sabido mesmo a pouco. Podíamos, e devíamos, ter seguido em frente. E a agressão de Toldo nos minutos finais ficará sempre como uma espinha encravada na nossa garganta. Golaços, personalidade e grandes exibições: O Benfica começava a voltar à Europa, mas ainda revelava inexperiência. Nas bancadas... bem, nas bancadas era a réplica daquilo que o feiticeiro húngaro, Bella Gutmann, descrevia como a mística do Benfica: “Chove? Faz Frio? Faz Calor? Que Importa, nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno… Por terra… Por mar… Ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da equipa… Grande… Incomparável… Extraordinária… massa associativa!”. É esta massa que sempre foi e sempre será o maior activo do clube que Lisboa viu nascer, e o Mundo viu crescer.




Era então tempo de regressar aos autocarros e seguir para o aeroporto onde acabámos por nos cruzar com o plantel, mas também onde o nosso voo atrasaria algumas horas, tendo nós apenas aterrado em Lisboa já perto do nascer do sol. Tinham sido 24 horas (quase) à Benfica, extremamente intensas com histórias para recordar e muito cansaço acumulado. Mas tinham sido tambem 24 horas inesquecíveis e que valem sempre a pena. Porque o jogo são 90 minutos, mas as histórias são eternas.
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P.S. No início falei dum episódio no qual disse “Mas lá chegaremos…”. Pois, eis-nos chegados: o amigo em questão voltou com uma malta que tinha ido de carrinha. A carrinha ainda não tinha saído de Milão no regresso, e teve um acidente. Apesar do susto e dos hematomas, todos ficaram bem. Ficou a história apenas. Felizmente.



BENFICA I WILL FOLLOW!!!

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Assistência Champions




Decorrida a primeira jornada da Champions, voltamos a um assunto que nos é muito caro: as assistências. 
O grupo do Benfica não é o mais propício a enchentes, pois sabemos que muitos adeptos portugueses acabam por se empolgar mais pelo adversário do que pelo fenomenal que é acompanhar a sua equipa. Ainda para mais num dia de semana, e às 19:45 (vs as 20:45 ou mais de toda a restante Europa, expceção feita ao Reino Unido).

Temos entao duas formas de analisar os 42146 adeptos presentes na Luz na passada terça feira. A primeira, factual, diz-nos que o Benfica foi um dos 7 jogos (em 16) a superar os 40 000 espectadores no estádio. Na verdade a assitência na Luz foi a 7ª melhor da primeira jornada.

O destaque da semana vai para os mais de 80000 adeptos presentes em Wembley no Tottenham vs Monaco. Terá sido o jogo do Tottenham (finais de taça excluídos) com maior assistência de sempre? Numa comparação nacional podemos ver que, ambos com adversários pouco apelativos (O Besiktas talvez fosse um pouco mais que o Copenhaga devido aos nomes familiares que lá jogam), o Benfica teve uma assistência superior em quase 8000 espectadores.




Esta análise é no entanto, a meu ver, errada. Cada clube tem a sua base de apoio, e a nossa é tremenda. Logo comparar os números a seco faz pouco sentido. Se nos fiarmos, por exemplo, na capacidade dos estádios, assumindo que os estádios estão à dimensão do clube (que não estão), os números ficam totalmente diferentes: o Benfica teve, neste caso, uma das piores percentagens de oupação da primeira jornada.
Reparamos igualmente que o nosso grupo teve 2 das 3 piores percentagens de ocupação, e que o pódio-mau é completado pelo City - Borussia M'Gladbach que foi afectado pelo adiamento do jogo que terá impedido certamente uma assistência superior.
Destaque para a Alemanha com vários jogos e percentagens de ocupação acima dos 75%, uma delas acima dos 90, certamente a única liga a consegui-lo e acredito que o façam em todas as jornadas. Isto não é uma coincidência. Basta averiguar o que por lá se tem feito na promoção do jogo, ao mesmo tempo que é feita a defesa do adepto. Ambos são compatíveis.


É um drama ? Não. Mas temos de ter noção que podemos e devemos dar mais. E poderíamos ter ajudado a equipa a segurar os três pontos duma forma mais consistente.
As soluções ? Em horário Champions será sempre 19:45 a dia de semana, não há volta a dar, enquanto não entrar em vigor a nova brincadeira da UEFA, Compete-nos a nós, adeptos, fazer um esforço (e no contexto actual português é um esforço, no qual temos de fazer constantemente uma definição de prioridades), mas também ao clube criar condições para que os adeptos possam vir. O Red Pass (Total neste caso) com prestações é uma delas. Os bilhetes a vulso e o pack são outra.

Viva o Benfica.

Rumo aos 8ºs.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Astana vs SL Benfica: A segunda parte de uma ida e regresso ao fim do mundo.


Após a primeira noite bem dormida da viagem, hora de tomar o pequeno almoço, onde o mais indicado, era mesmo a omelete porque o resto acaba por deixar muito a desejar.

Barriga cheia e, já com 3 reforços vindos de Londres e do Luxemburgo, fizemo-nos à estrada. Mas agora com o trabalho de casa feito, apanhámos o autocarro na paragem mais próxima: o equivalente a 30 cêntimos levou-nos até ao centro da cidade, e poupou-nos uns quantos quilómetros de caminhada.
Após um pequeno passeio pelo centro apenas para ver as vistas, e dadas as ausências da véspera, voltámos a subir à torre e na verdade a vista nunca era de desdenhar, pois em contraponto ao dia anterior, o céu estava fechado. Quando nos preparávamos para descer o elevador, pessoal amigo destas andanças apareceu e pudemos comprovar o fenómeno "Material Benfica": quem tivesse casacos do Benfica fazia sucesso em Astana pois facilmente era confundido com um jogador da equipa. Acontecia sempre!

Chegados cá abaixo encaminhámo-nos para o centro comercial mais próximo para almoçar sem no entanto vários fenómenos deixarem de suceder:
  1. Começava a nevar. Era bonito mas terrível porque agora sim os passeios ficavam efectivamente escorregadios e cada passo era um perigo autêntico.
  2. Ainda estávamos junto à torre quando fomos abordado por dois locais que perguntavam se éramos adeptos do Benfica. À resposta afirmativa corresponderam com o desejo de tirarem então uma foto connosco. Satisfeito concedido, obviamente. 

Lá nos dirigimos então para um centro comercial onde a própria escolha alimentar não era a mais fácil: em muitos locais não havia qualquer tradução sobre o que era a comida e tinhamos de tentar adivinhar. Valia que no interior era a garantia de não haver frio. Foi também neste centro comercial que pudemos constatar que a dificuldade em encontrar uma caixa multibanco na véspera se deu ao facto de não termos entrado em zonas comerciais, praticamente: ali eram às dezenas.

Após o almoço continuámos a nossa caminhada no eixo-central da cidade que ligava a Torre ao principal centro comercial. Enquanto um dos nossos continuava a imitar as pistas de snowboard e a, por vezes acabar no chão, a boa disposição continuava. O frio não fazia mossa. No entanto pouco havia a visitar. Já a meio caminho encontrámos um restaurante onde contávamos ir jantar após o jogo mas dificilmente encontraríamos o mesmo aberto e haveria sempre dificuldade em regressar ao hotel pois após o jogo já não haveria autocarros para a zona onde estávamos albergados, quanto mais depos de jantar.




Aproveitando a famosa placa I Love Astana ainda tirámos algumas fotografias, e ao lado da qual estava uma estátua em bronze onde tirei uma das minhas fotos preferidas em Tours europeias, e fomos então para a zona do calor, isto é para o Centro Comercial principal da cidade. O primeiro local onde nos dirigimos foi ao último piso para irmos ao Khan Shatyr. O Khan Shatyr é uma praia interior, localizada no ultimo piso do Centro Comercial com o mesmo nome. A entrada era caríssima e resolvemos então que a melhor forma de passar o tempo, até irmos para o estádio era ficar ali a beber umas fresquinhas. E assim foi durante 2 horas.

Quando faltavam sensivelmente três horas para o jogo iniciámos a nossa caminhada de 3500 metros que tínamos até à Astana Arena. Acham pouco? Compreendo. Mas imaginem 3500 metros em que os pés têm de ir a rastejar, para evitar quedas, e com a cerveja ingerida a ter, constantemente de ser despejada... Pois... 

Já a menos de 500 metros do estádio aconteceu. O pé direito fugiu-me. Voei, dei meia pirueta no ar e... PUM ! Chão, corpo e testa. Como me caí, levantei-me com o ar mais natural do mundo. Ar de espanto nos locais ? Nenhum. Se calhar as quedas são comuns por ali, apesar de não ter visto nenhuma.

Seguimos então para os últimos metros, e junto ao estádio, moderníssimo, reparámos que havia tambem dois enormes pavilhões e um velódromo. Infra estruturas de elevadíssimo quilate não faltavam!


Chegados ao estádio, procurámos a porta e entrámos. A porta era algo com pouco sentido pois após entrar podíamos contornar todo o Estádio por dentro, sem qualquer impedimento físico para o mesmo. E foi assim que nos dirigimos ao canto oposto para comprar cachecol de clube, visto que do jogo, infelizmente, já tinham esgotado.
Voltámos então para o sector que nos estava destinado, e onde teríamos a companhia de mais de uma centena de Benfiquistas. Se a este número somássemos os que acompanharam a Benfica Viagens, ficamos com a noção da grandeza do Benfica. No fim do mundo e perto de 200 adeptos é algo de absolutamente memorável e poucos clubes no mundo o fariam. Nós fizemos.


Sobre o jogo não há muito a dizer. Começámos mal. Miseravelmente mal e vimo-nos a perder por 2-0, o que nos deixou loucos. Mas um bis de Raul, com um golo em cada parte, permitiu-nos alcançar um empate fundamental no apuramento, o qual acabou por nos saber a pouco pois a 10 minutos do final do mesmo optou-se por defender o resultado.

Após o términus da partida, alguns jogadores agradeceram, tendo dois deles entregue a camisola aos adeptos. Nós fazíamos as contas ao apuramento, que ficaria praticamente selado com o outro jogo dessa noite, no nosso grupo.

Saímos então do estádio, onde nos depedimos dos companheiros que tinham meio próprio de transporte, para iniciarmos a nossa longa caminhada até ao hotel: 9 quilómetros pela frente. O primeiro quilómetro foi feito à conversa com locais que falavam inglês e nos contavam que o filme do Borat havia sido proibido no país. Já perto da torre, com 1/3 do caminho percorrido, ainda pensámos em taxi mas o preço indicado nao foi a contento e seguimos a pé, com uma paragem no Burger King local para jantar. Quando chegámos ao hotel, apenas queríamos descansar, e assim foi. 
Dormir, acordar, tomar o pequeno almoço e apanhar o transfer para o aeroporto, onde chegaríamos à hora de almoço.

O transfer esse, foi sui generis: para 5 pessoas, com malas volumosas, um carro de 5 lugares com o vidro dianteiro fissurado. Top!

Chegados ao aeroporto, passámos o controlo de segurança e conhecemos um escocês, adepto do Dundee United, que acompanha o futebol cazaque. Confesso que me fez despertar a curiosidade de conhecer Almaty. Quem sabe no futuro...Aproveitámos também para gastar o resto da moeda local no free shop.



Separámo-nos então por voos: 3 seguiram para londres, eu e outro para Frankfurt, onde após chegarmos tive direito a boleia até Frankfurt Hahn, onde pernoitei. No dia seguinte, voo para Lisboa onde, por volta das 14:00 aterrei.

5 dias depois. Muitos milhares de quilómetros depois eu estava de volta. E perguntam vocês onde terei ido? Fácil. Tão fácil. Almoçar à Luz!

Depois sim foi tempo de ir para casa!

Esta, meus amigos, modéstia à parte mas fica para a História! E esta ninguem ma tira!

VIVA O BENFICA!

BENFICA I WILL FOLLOW!

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Preço de bilhetes - 1ª Liga

Hoje saíram os preços para o GD Chaves vs SL Benfica e os números foram chocantes. Chocantes e ilegais.

No entanto os mesmos estão regulamentados e os clubes não cumprem. Os regulamentos são claros!

Vamos então ver o que diz o Regulamento de Competições, mais propriamente o seu artigo 105º chamado: Preços dos Bilhetes


1. Em todos os jogos das competições organizadas pela Liga é obrigatória a emissão de bilhetes para venda destinados a público. 
2. Os preços dos bilhetes para público serão fixados pelos clubes visitados, ou como tal considerados, enquanto entidades organizadoras, em obediência às seguintes condições: 
a) os clubes terão obrigatoriamente de definir, para cada jogo, um mínimo de três sectores com preços diferenciados, cujo limite máximo não poderá exceder, respetivamente, um terço, dois terços ou a totalidade do valor máximo estabelecido para a correspondente competição nos termos da alínea e);
b) o preço mais baixo definido para o público em geral é igual ao preço definido para os bilhetes destinados aos adeptos do clube visitante, devendo ser único para todo o sector aprovado em vistoria realizada pela Liga. 
c) nenhum dos sectores definidos nos termos da alínea anterior poderá corresponder a mais de metade dos lugares disponíveis no estádio e destinados ao público;
d) salvo se vierem a ser definidos mais de três sectores com preços diferenciados, nenhum dos sectores poderá corresponder a menos de um quinto dos lugares disponíveis no estádio e destinados ao público; 
e) o limite máximo dos preços dos bilhetes a praticar pelos clubes será indexado à classificação atribuída ao respetivo estádio nos termos do artigo 33.º, de acordo com a tabela publicada no Comunicado Oficial n.º 1 da Liga, sem prejuízo do regime aplicável aos bilhetes de cartão jovem.


As alíneas a) e b) são claras. O bilhete mais barato para o público, visitante, não pode exceder 1/3 do valor máximo do bilhete regulamentar para cada estádio.
Ora os valores máximos em Portugal são os seguintes:

  • Estádios Nível 1 - 75€ + IVA
  • Estádios Nível 2 - 45€ + IVA
  • Estádios Nível 3 - 30€ + IVA

Assim sendo, os bilhetes não poderão exceder os preços de 25€+IVA, 15€+IVA e 10€+IVA para estádios de Nível 1, 2 e 3 respectivamente.

De seguida segue a lísta de Estádios homologados pela Liga para esta época bem como o seu nível, e guardem desde já o tecto máximo para cada jogo fora que venham a ter:



Nível 1 - 25€ + IVA: Luz, Alvalade, Dragão, Bessa, Guimarães, Braga
Nível 2 - 15€ + IVA: Feira, Moreira de Cónegos, Choupana, Tondela
Nível 3 - 10€ + IVA: Arouca, Restelo, Chaves, Estoril, Barreiros, Paços, Vila do Conde, Bonfim.


Não se deixem enganar! Lutem pelos direitos dos adeptos de futebol


sábado, 10 de setembro de 2016

Astana vs SL Benfica: A primeira parte de uma ida e regresso ao fim do mundo.


27 de Agosto 2015. Dia de sorteio da Champions. Ansiedade ? Muita. Perspectivas? Ainda mais ! Destinos desejados ? Alguns. Astana um deles? Nem pensar.

Grupo do Benfica: SL Benfica, Atlético Madrid, Galatasaray e Astana.

Reacção: "Asquê? Isto é no Cazaquistão, não é ? E como é que se vai para lá ? 

E foi assim que tudo começou...


Ora bem, como vamos para Astana ? Isto requer alguma logística, pensei eu. No entanto, passado apenas alguns dia,s já tinha marcado o voo de Frankfurt Main para Astana e regresso da mesma forma. Nesse momento ainda estava sozinho para a viagem... Na véspera desse voo tinha marcado a ida para Frankfurt Hahn, tal como o regresso do mesmo aeroporto no dia seguinte ao regresso de Astana. Ao todo seria de domingo a sexta. À Benfica, portanto! Duro ? Sim. Mas nós adoramos isto. Sempre adorámos.... 


Ao longo do mês seguinte, aproveitei para tratar das questões logísticas (estadia) e burocráticas (seguro de viagem e visto de turismo para um país que não tem representação consular em Portugal). A questão do seguro foi de resolução fácil, já para o visto, a ajuda dum bom amigo residente em Londres resolveu a questão. Depois, foi só esperar até final de Novembro para arrancar.

E tudo começou em dia de Derby. Derby da Taça, mais propriamente, e a terceira vez que enfrentávamos o eterno rival nessa época, o que acabou por coincidir com a terceira derrota. Haveria melhor altura para sair do país do que a semana após esse jogo ? Nem pensar. Perfeito. Assim não teria de aturar a ejaculação precoce de quem se preparava para ser Campeão do Universo. E foi após o derby que fui para casa fazer a mala. No dia a seguir começava a odisseia!

22 Novembro de 2015 - Às 12:55 descolava rumo a Frankfurt. A viagem correu de forma normal, através de low costs, mas tive um momento que me fez sentir miserável. Nunca fui uma pessoa preconceituosa e o preconceito sempre me incomodou. Até que a meio do voo, uma pessoa com uma barba característica estava demasiado perto da porta da aeronave e a olhar para a mesma com demasiada curiosidade para o meu gosto. Fiquei sobressaltado. Após alguns momentos a situação tornou-se óbvia face ao que se seguiu: o senhor em questão apenas aguardava a sua vez para ir ao WC que se localizava junto à porta. Lá está o velho ditado: "Don't judge a book by its cover". Algo que sempre soube, e que a cultura de medo face a recentes eventos à escala mundial fazem algumas pessoas duvidar. De resto todo o voo correu normalmente, e aterrado em Frankfurt Hahn foi tempo de apanhar o shuttle até à estação central de Frankfurt, no que seria uma viagem de uma hora pois o Easy Hotel, onde me iria instalar, ficava lá perto.
Chegado a Frankfurt, dirigi-me ao hotel, fiz o check-in, instalei-me e desci para jantar num pub ao lado. Apenas 2 ou 3 pessoas, e comi uma pizza. Após o jantar, sabia que estava perto do centro da
cidade, fui então dar uma volta pela zona nocturna da mesma no que se revelou uma desilusão: era domingo e não havia vivalma na rua. Lamentei o facto, regressei ao hotel e fui então descansar, pois o grosso da viagem ainda estava para vir...

No dia seguinte, acordar cedo e aproveitar o bom tempo para ir passear à única parte da cidade que me foi recomendada: a marginal do rio Main, perto da qual também se encontravam a montar algumas das típicas feiras de natal, bastante habituais em praças europeias. 
No regresso ao hotel, passagem pela zona económica, e ainda por uma loja do Eintracht para comprar o clássico cachecol de recordação. Infelizmente não pude ir ao estádio pois o desvio ainda era considerável e não havia tempo para isso.






Após o almoço, dirigi-me à estação dos comboios e fui então para o aeroporto de Frankfurt. Uma curta viagem de 15 minutos até chegar ao aeroporto mais congestionado da Europa, onde tudo é um mundo e onde ia finalmente começar a ter a companhia dum companheiro de viagem, oriundo de Londres, e com o qual me encontrei já na porta de embarque. À chegada, a curiosidade dos três destinos da fase de grupos (Istambul, Astana e Madrid)estarem "juntos" no placard das partidas. Nessa altura já só havia a curiosidade: "Air Astana ? Estou para ver...". E vi. E fiquei extremamente surpreendido com a forma como fomos tratados e com toda a amabilidade que tiveram para com os passageiros. O avião descoloou às 18:55 alemãs e aterrou às 05:45 em Astana. O voo esse foi passado a ver filmes ou a dormir, bem estendido nos três lugares que estava a ocupar



Aterrados em Astana, e após uma longa espera de meia hora nos serviços de emigração, levantámos as nossas malas e no hall das chegadas o transfer esperava-nos. Sem dar termpo sequer de levantarmos dinheiro, fomos encaminhados para o carro e assim que pusermos os pés fora do aeroporto o primeiro estalo de frio: era até aos ossos! E roupa quente não faltava, no entanto. Daí até ao hotel uma viagem de 25 minutos sensivelmente, ao longo dum deserto até entrar na cidade onde se viam muitos edificios modernistas, muitas obras.

Ao chegarmos ao hotel, pouco depois das 7 horas locais, mais uma boa surpresa: o quarto foi-nos desde logo disponibilizado, mesmo não tendo reservado a noite que estava a terminar, o que nos permitiu ir recuperar algumas das horas de sono em atraso e ainda podiamos ir tomar o pequeno almoço. Mas antes do descanso começavam a chegar novidades de outros companheiros de luta que tinham chegado tambem nessa madrugada: um deles contactava-me a saber se o nosso hotel teria vaga pois os apartamentos que tinham arrendado afinal não estavam disponíveis e encontravam-se nesse momento em Astana sem qualquer alojamento. Ficámos de falar mais tarde se necessário fosse...

Sensivelmente duas horitas depois, era hora de nos fazermos à rua e ir passear pela cidade gelada. Dos consócios chegava a notícia que tinham resolvido a situação, o que evitava mais dores de cabeça para a frente. E assim começou a nossa caminhada por Astana. Pelas nossas contas andámos mais de 20 km ao longo do dia, sendo que na maior parte do tempo tal deve ser feito com os pés a arrastar senão o chão é o destino do caminhante. Pela cidade viam-se prédios enormes em obras, mas paradas por razões compreensíveis. Em 2017 terá lugar a Exposição Universal na cidade, a qual ao longo do ano tem uma amplitude térmica de 80ºC. Do calor tórrido no verão, ao frio sibérico do inverno. No nosso caso andávamos com temperaturas negativas, mas nada de insuportável. 

A caminhada começou por uma longa avenida (uma de muitas, na cidade) rumo à Hazret Sultan Mosque, ao lado da qual se encontrava o Palácio da Independencia. Pelo caminho, um enorme condominio fechado sobresaia: era a embaixada dos Estados Unidos. No fundo um clássico em qualquer capital. Após o Palácio da Independencia, dirigimo-nos ao Palácio presidencial. Pelo meio tinhamos de atravessar um parque e um rio, ambos completamente congelados. E foi a partir daqui que entendemos que de facto, no inverno de Astana, as pessoas não podem andar: têm de rastejar. Senão todo o passo é um perigo. A zona do Palácio Presidencial é a zona central da cidade à volta da qual se encontram as principais actividades comerciais: Nesta altura procurávamos um multibanco pois continuávamos a não ter a moeda local e queríamos ir ver a cidade de cima, subindo à Torre Bayterek, o principal ex-libris da cidade. Após algumas voltas, e sem nunca nos lembrarmos de entrar em qualquer centro comercial, lá encontrámos um multibanco, o qual por momento chegámos a pensar que era o único...
Subimos então à Torre, aproveitar para tirar algumas fotos da cidade, tentar entender o que eram as coisas que estavam na torre e ir procurar um sitío para almoçar a horas tardias (tardias localmente porque no nosso horário biologico ainda estava a terminar a manhã...). Dito e feito. Após a refeição, hora de seguir para o principal centro comercial da cidade, o qual, até pelo seu formato, acaba por ser uma das principais atracções da cidade. Neste centro comercial estavam a passear os miúdos da equipa B, e foi aí que me apercebi que ter o fato de treino do Benfica era garantia de sucesso na cidade: os locais estavam loucos com a presença do Benfica.


Após a saída do shopping, e do calor que lá estava, com a perfeita noção que nos restava uma longuíssima caminhada até ao hotel,e a noite já caía, lá seguimos. Já era de facto de noite e a iluminação artificial dos prédios acabava por dar uma cor fantástica à cidade.
Já perto do hotel, um dos primeiros momentos de intriga: encontrava-se ali uma estátua de Charles de Gaulle. O que o justificaria ?  Ficaria a saber mais tarde que a única razão era que o mesmo tinha sido erigido para simbolizar as fortes relações entre o Cazaquistão e a França.


A duas centenas de metros do hotel, aproveitando a presença de um KFC e o facto de uma das empregadas saber falar inglês, aproveitámos para jantar, e seguir para o hotel. A exaustão era enorme, e era uma boa altura para aproveitar a piscina e a sauna para a recuperação. Veio então a desilusão: estava em obras e era portanto impossivel utilizar....

Remédio santo: subi ao quarto e fui para a internet tentar perceber como funcionavam os autocarros em Astana (único meio de transporte disponível se excluíssemos os taxis), pois na madrugada que se aproximava chegariam mais 3 dos nossos e o estádio ficava ainda mais longe do que o local até onde tinhamos ido nesse dia....