sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Napoli vs Benfica: uma ida à cidade que não sorri





Desde que foi o sorteio, que estava gerada a expectativa. O Benfica ia voltar a Itália, desta vez a uma cidade sisuda, que quem conhecia me descrevia da seguinte forma: "Aproveita-se a marginal na zona do castelo, de resto é uma cidade suja, com um transito inacreditável e onde todos desconfiam de todos". Sabiamos que íamos estar também num dos ambientes Ultra mais fechados de Itália. Perante uns adeptos que odeiam tudo e todos e orgulham-se disso.

Dada a forma como a mesma me foi descrita, pode-se dizer que praticamente tudo correspondeu ao que me haviam dito. Mas lá chegaremos.

A logística não foi fácil, mas a forma encontrada foi voar para Roma, onde dormiríamos na véspera do jogo, seguir perto da hora de almoço para Nápoles, dormir lá após o jogo (era inevitável pois não havia comboio de regresso após o jogo e as recentes experiências de aluguer de carro em Itália recomendavam-me a não fazê-lo), voltar cedinho no dia pós jogo para Roma, e a meio da tarde voar para Lisboa.

Tudo em contra-relógio portanto, o que no caso de Nápoles se justifica, mas no caso de Roma não. Nunca, jamais em tempo algum. Roma é uma cidade soberba, mágnífica sobre a qual me faltam adjectivos para a descrever. Quando alguém me diz que vai a Roma e não se apaixona pela cidade só posso deduzir que está a mentir. Aliás, não o deduzo porque nunca ninguém o fez. Parece-me esclarecedor...

Foi assim que ao final da tarde embarcámos rumo a Roma, o voo correu tranquilamente, tinhamos a preocupação sobre a forma de ir de Ciampino para Termini pois um eventual atraso faria com que perdessemos o último shuttle para a cidade mas tal não sucedeu e até Termini tudo correu bem. 
À porta de Termini aguardava-nos um conhecido Romano que mostrou que os Grandes sabem sempre receber bem. Não nos surpreendeu. Dada a hora tardia (perto da 1 da manhã local) rapidamente nos despedimos e seguimos para o hotel fazer o checkin, uma pequena caminhada de 5 minutos, tendo acordado o recepcionista para nos podermos instalar.






Instalados, internet a bombar nos dispositivos móveis e tudo ok para irmos à rua comer qualquer coisa. Um estabelecimento de fast food indiano logo ali foi o nosso pronto socorro para metermos algo no estomâgo enquanto dois estrangeiros tentavam por ali conseguir um local para dormir havendo um ambiente estranho. Não era claramente recomendado nos alongarmos por ali. Comemos e regressámos ao hotel. Pelo menos dois de nós, porque ainda havia um intercâmbio euro-asiático na Piazza di Santa Maria Maggiore.



Na manhã seguinte, dia de jogo. Após acordar e tomar o pequeno almoço, seguimos tranquilamente para Termini onde nos aguardava o comboio regional rumo a Napoli, viagem com a duração prevista de 2h45.

Entre conversas e vistas engraçadas pelas janelas, a viagem até se fez bem, tendo a última meia hora da mesma sido feita já com o Vesúvio na vista: é imponente e salta claramente à vista.



À chegada à Stazione Centrale de Napoli, além do calor que se fazia sentir e da Napoli Store que nem cachecóis tinha, percebemos que não estavamos em zona de conforto. A cada passo dado, a sensação de estar a ser observado Ainda na Praça Garibaldi, paragem num quiosque para despachar a questão dos ímans locais.
A 5 minutos da estação, se calhar nem tanto, estava o nosso hotel, onde fomos bem recebidos. Um pequeno hotel, onde logo se disponibilizaram para nos servir o pequeno almoço no dia do check out antes da hora pré estabelecida (só servem às 7:30, mas o nosso comboio seria às 7:45). O nome ? CineHoliday Hotel, um hotel decorado com personagens e cenas de cinema e onde os quartos têm nomes de actores. O nosso ? Marylin Monroe! Fácil!


Enquanto arrumávamos as coisas, fomos debatendo qual seria o plano para a tarde e ficou definido que seguiriamos dali directos para o meeting point, pela principal avenida da cidade, a Corso Umberto I, e se pelo caminho houvesse algo para comer, almoçaríamos aí.
Enveredámos então pelos dois quilómetros de caminhada que nos aguardavam sem qualquer percalço, mas sem encontrar nada em especial para comer, até que já com o castelo da cidade à vista, o qual ficava à frente do meeting point, saímos da avenida principal ao ver uma pequena pizzaria. Nessa rua um pequeno grupo de Napolitanos ficou em observação, e com a sensação de que iriam tentar algo. Dentro do restaurante alertavam-nos que o grupo de cinco napolitanos estava do lado de fora à nossa espera, mas fugir dali não era solução. Na verdade vimos que eles estavam, quando entrámos no restaurante, na única saída que sabíamos onde ia dar, e não fazia sentido andar a arriscar outras. Assim sendo, comemos e no final da refeição, felizmente, já não se encontravam lá, quiçá vencidos pelo cansaço. 
Sem mais demoras, seguimos para o meeting point: a Stazione Maritima onde se apanham os barcos para Capri, entre outros, e que distava 100m do nosso restaurante. 
Esta zona da Stazione Maritima e do Castelo parece ser de facto a mais bonita da cidade, para não dizer a única. Tem é o problema de estar tudo em obras e o cenário estragado. E o acesso à beira rio é negado, por ser propriedade da Marinha Italiana e tirar fotos não fica de todo nada acessível.


Por volta das 17:30 locais, a 3 horas e 15 minutos do ínicio do jogo, os agentes da autoridade locais já se mostravam apressados para sair para o Stadio San Paolo. Não entendíamos bem a pressa para seguir para um estádio que se encontrava a 6 km de distãncia a pé. Começavam aí as más surpresas...


Para entrar no autocarro, todos os adeptos tinham de ser revistados, tirar o cinto, com a promessa que o mesmo seria devolvido após o jogo (conseguimos ir à pressa guardar os nossos no quarto dum de nós que estava hospedado a 100 metros), e ser fotografados com a identificação e o bilhete do jogo à frente, qual presidiário ou criminoso. 



Após todos os adeptos, um a um, terem passado pelo processo descrito, os 4 ou 5 autocarros foram arrancando rumo ao Estádio. Estranhámos que o percurso adoptado estivesse a ser contrário à direcção do estádio, mais tarde percebemos porquê. Para chegar a um estádio que estava a 6km apé de distância, fomos brindados com um passeio de 61 km de autocarro, em hora de ponta numa cidade que, já de si, tem um trânsito infernal. Pelo meio ainda deu para ver o sunset na costa italiana...

61 km depois, já com noite cerrada, chegámos ao San Paolo. Nenhum adepto Napolitano perto da nossa porta, elevadíssimo dispositivo policial, a entrada fez-se após mais uma apertada revista, como se tudo o que passámos antes não chegasse. 
Entrámos, a pouco e pouco o sector foi-se compondo, só que a totalidade dos adeptos só se encontrou lá dentro perto do intervalo: quem foi de carro acabou por pagar a factura do transito caótico da cidade.

Lá dentro, perdoem-me, mas foi inesquecível. Se na primeira parte o resultado nos pareceu injusto, com um 1-0 ao intervalo e um bom apoio da nossa parte, ao calamitoso ínicio da segunda parte dentro das quatro linhas, associou-se um incrível apoio de todos os Benfiquistas presentes sem excepção. Porque todos os presentes têm a noção que há algo que ao Benfica nunca poderá faltar: a sua voz! Aquela que representa o nosso amor. E essa, nunca faltou e nunca faltará. 1-0, 2-0, 3-0, 4-0, 4-1, 4-2, Apito final. A única constante em tudo isto foi a nossa voz, que nem os muitos quilómetros de viagem e cansaço conseguiram calar. A que foi reconhecida por todo o plantel ao agradecer a um sector onde não se notava que o jogo tinha terminado pois o silêncio só apareceu depois de todas as equipas recolherem aos balneários.
Após uma meia hora retido nas bancadas, abertas as portas para o regresso aos autocarros: Coincidente a esta abertura, deu-se a devolução dos cintos: aos que foram individualmente, tudo ao desbarato à porta do estádio, qual feira da ladra, aos que foram nos autocarros, cada um tinha o saco com os cintos dos seus passageiros. Mas qualquer um podia lá entrar...
Deu-se então o regresso à Stazziona Maritima. O assunto era as situações de aperto, ou semelhantes, que alguns de nós tínhamos vivido durante o dia durante um caminho mais curto que o do pré jogo e onde todos desmobilizaram assim que chegámos. Fomos guardar as coisa no hotel onde ficaram os nossos cintos, saímos para jantar a pior sandes de sempre, recuperámos as coisas e voltámos ao hotel para descansar. Já passava da uma da manhã e às 6:30 já nos estávamos a levantar.


Pequeno almoço tomado, checkout e saída para a estação. Às 7:45 arrancou o comboio rápido rumo a Roma. A viagem durou 1:10 e foi da noite para o dia. Passámos da cidade que não sorri, para a cidade dos sonhos. Onde te abordam com um sorriso na cara, onde te tentam convencer a comprar bilhetes para ir ver a Roma, onde há inúmeros turistas, onde há um coliseu de sonho, onde andas durante 7 quilometros, vês alguns dos grandes ex-libris da cidade (e são tantos que nunca ninguém terá visto tudo), compras uma camisola da lenda Francesco Totti e nem uma vez tens uma sensação de desconfiança das pessoas com quem te cruzas. Pelo meio, um almoço na Prosciutteria Trevi, bem perto da Fonte de mesmo nome. Uma excelente indicação do João Gonçalves que obviamente não desiludiu. Que maravilha...




Uma cidade diferente, uma cidade tremenda, repleta de história, com colinas e uma cor que me é tão familiar... Onde já vi isto ? Em Lisboa, claro.


Retornados a Termini, apanhámos o Shuttle para Ciampino, onde um pontual voo para Lisboa nos esperava.




Foi uma experiência diferente. Napoli é feia, sisuda e repleta de desconfiança. O Vesúvio ao longe impõe respeito, e para esse lado sim tenho vontade de conhecer melhor. O melhor da viagem ? A experiência enriquecedora e o regresso a Roma que é sempre maravilhosa e que me aguça a vontade de lá voltar.


De resto já só pensamos em Kyev.

BENFICA I WILL FOLLOW!

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